PRDC - PRocesso de Demolição em Curso
Definitivamente, o nosso caríssimo ministro da Saúde está a mostrar serviço. Seria de esperar, com o seu currículo. O homem com a fama de ter endireitado a Direcção-Geral de Impostos - fama e proveito, diga-se, e nisto da cobrança de impostos a eficiência cai sempre bem à direita, sobretudo quando a mão fiscal não chega às contas fora do país e às grandes fortunas e limita-se a ser inflexível como quem não pode fugir, a agora sacrossanta classe média assalariada e os profissionais liberais. Mas adiante. O homem que conseguir cobrar mais impostos do que os seus antecessores tornou-se uma espécie de messias para um hipotético governo de direita. E quando a direita chega ao poder, lá está ele. Paulo Macedo corre mesmo o rico de ser o único ministro unânime de um Governo rapidamente caído em desgraça. As comadres do PSD - Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes e até o todo-o-terreno Vasco Graça Moura - apressaram-se a dar estaladas no bebé da incubadora e agora preparam-se para esmagá-lo impediosamente. Enquanto isso, o catita Passos Coelho saltita por Berlim e Bruxelas em nobre missão de apajamento da longínqua suserana do país, deixando o governo entregue a um novato da política, Vítor Gaspar, que se multiplica em anúncios de medidas e entrevistas televisivas, e a um estranhamente ausente Álvaro, chamado três vezes ao parlamento e três vezes negando (como Tomé) a pretensão dos aborrecidos deputados. Não iremos especular sobre um possível retiro espiritual em Montreal; debrucemo-nos antes sobre o herói - até agora - deste Governo, Paulo Macedo. Competência não lhe falta, julgando não só pela referida eficácia na DGI mas também pelo invejável currículo na área da Saúde. Um cínico poderia dizer que não, ele não tem experiência na área da Saúde. Mas caramba, picuinhices, meus amigos, isso são meras picuinhices. Alguém que foi vice-presidente (não executivo) de várias empresas do Millenium BCP, a saber, Grupo Segurador; Ocidental e Médis, Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde (entre outras), está mais do que habilitado a tomar conta do sector e a tornar rentável o que é um peso enorme para o Estado. E as medidas anunciadas nos últimos dias indicam que se vai no bom caminho - talvez por isso eu não entenda a irritação deste senhor (e não se preocupe, que eu não me senti mal tratado; já pelo Governo que o senhor apoia, isso é outra história), primeiro porque não explica porque está irritado e segundo porque eu percebo muito bem - que absurdo achar-se o contrário - que "o nosso país de direitos e regalias para todos está alegremente falido"; por isso é que o Governo PSD/CDS está a trabalhar no sentido de transformar este num país de direitos e regalias para alguns. E Paulo Macedo é um dos pontas-de-lança do processo de demolição do Estado Social em curso. Por esta razão, parece-me também absolutamente natural que ele tenha escolhido um antigo gestor do BPN que levou duas empresas na área da Saúde à falência - ou perto disso - para liderar um grupo que vai estudar a criação de mecanismos que "sejam incentivadores de geração de receita própria". Um serviço social que gera receita não será um ovo de Colombo; os hospitais EPE são o exemplo vivo disso: geram receita à conta dos dinheiros que recebem do Estado. Já os hospitais públicos, é a desgraça que se conhece: dão um prejuízo brutal tratando de doentes de todas as classes sociais. Onde já se viu? Temos, definitivamente, de acabar com este estado de coisas. Por isso fica aqui o meu agradecimento e uma ou duas sugestões a Paulo Macedo: que tal fundir os hospitais e os centros de saúde com as repartições das finanças? Ou os bancos de sangue com os gabinetes de atendimento da Médis? Os recursos que se poupariam deste modo, a "receita" que não se recolheria!