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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O futebol deve ser apenas para quem dele gosta

Sérgio Lavos, 28.11.11

 

Quem gosta verdadeiramente de futebol gosta pouco ou nada de tudo o que é lateral ao jogo. Este fim-de-semana, houve um Benfica-Sporting bem disputado, futebol aberto, com bastantes oportunidades de golo. Um jogo emocionante. Para variar, até a equipa da arbitragem esteve à altura. Dois dias depois, do que é que se fala? Dos actos de um grupo reduzido de adeptos que decide pegar fogo às cadeiras do Estádio da Luz; da caixa de segurança - relembre-se, uma estrutura usada em vários estádios na Europa, aprovada pela Liga de Clubes e pelo próprio Sporting numa visita feita em meados de Novembro; das declarações dos dirigentes. Mais uma vez, lamentável. Quem costuma ir aos estádios sabe que, em jogos grandes, há dois tipos de adeptos: os normais, que convivem nas bancadas amistosamente com adeptos de clubes rivais, e os anormais, os que vão para os topos entoar cânticos de insulto a adversários e até a clubes que não estão em campo, os que deixam um rasto de destruição a caminho do estádio, os que destroem propriedade privada quando a frustração canina da derrota lhes tolda os poucos neurónios que ainda flutuam no enorme vazio que está no lugar do cérebro, os que agridem bombeiros que se preparam para fazer o seu trabalho, colocando em risco a sua própria vida e a dos inocentes que os rodeiam

 

Há quem diga que as claques são necessárias, que trazem animação ao estádio. Não nego. Mas também é verdade que são sempre elas que provocam distúrbios antes, durante e depois das partidas. E tem de se fazer alguma coisa em relação a isto. Em Inglaterra, a solução foi simples: tratar os hooligans como indivíduos e não como parte de uma massa de pessoas. A violência nos estádios praticamente desapareceu neste país porque os adeptos violentos identificados pela polícia e pelos clubes passaram a ser proibidos de assistir a partidas de futebol. E se a violência está intrinsecamente ligada a uma claque, ao seu conjunto - como é o caso do colectivo Sporting 1143, agremiação de skinheads que se dizem fãs de futebol - ela deverá ser simplesmente erradicada dos estádios de futebol.

 

Mas há quem não entenda algo tão fácil de perceber: que a violência não faz parte do jogo, que o ódio deve ficar à porta do estádio. Os dirigentes, que deveriam dar o exemplo, também entram demasiadas vezes neste esquema, incitando directa ou indirectamente à violência. Aconteceu este fim-de-semana com o vice-presidente do Sporting, Paulo Pereira Cristovão, que mal acabou a partida veio acicatar ódios e desviar as atenções da derrota que o seu clube acabava de sofrer. Ontem, também voltou a suceder o inconcebível: um jornalista da TVI foi insultado por Pinto da Costa e agredido por elementos da empresa de segurança do Estádio do Dragão. Não é a primeira vez que um dirigente - e em particular, que Pinto da Costa - anda metido nestas brincadeiras perigosas. Haverá consequências, no plano desportivo, disciplinar ou legal? Infelizmente, sabemos que não. A impunidade é a regra no mundo do futebol. Enquanto não existir uma estrutura que seja independente dos clubes mais poderosos para julgar estes casos e leis mais penalizadoras para os autores deste tipo de actos, as coisas continuarão na mesma. 

 

Há quinze anos, um adepto sportinguista morreu num estádio de futebol atingido por um very light. O autor do disparo, um membro de uma claque benfiquista, foi julgado e condenado. Mas este tipo de objectos continua a entrar nos recintos desportivos. Os clubes não querem controlar quem vai à bola com outra intenção que não seja ver o "belo jogo". Fecham os olhos à violência fora do estádio e vão atiçando os ânimos ao longo da semana. Acontecer outra morte para que alguma coisa mude não pode ser uma opção. O futebol, o jogo jogado, tem de deixar de ser considerado apenas um pormenor no grande esquema das coisas. Se assim não for, quem perderá seremos nós, verdadeiros adeptos do que se passa ao longo de noventa minutos dentro das quatro linhas.

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