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Arrastão: Os suspeitos do costume.

2012 e 2013: os anos de todos os perigos

Daniel Oliveira, 28.12.11

 

 

"A Adidas estaria preparada para regressar às moedas locais". A frase é de Herbert Hainer, patrão da empresa alemã de equipamento desportivo. Claro que teve o cuidado de, logo depois, transmitir uma mensagem de otimismo. Mas a frase, impensável há uns meses, já é dita por grandes empresários em entrevistas públicas. O fim do euro já não é um absurdo inimaginável. Já não é um tabu. É uma possibilidade real. E anda muita gente a fazer contas a essa possibilidade.

 

O ano que começa no fim desta semana e o que se lhe segue decidirão o futuro deste continente. E esse futuro está pendurado no de uma moeda. Há passos que depois de serem dados não têm retorno. A União Europeia teria continuado a existir sem euro, mas depois dele ter sido criado é a União Europeia que morrerá se ele desaparecer. E se a UE morrer a Europa voltará, em plena crise, aos seus piores momentos. Todos os fantasmas do passado - que julgamos sempre, e sempre com engano, que foram ultrapassados - poderão regressar. Este pequeno continente, com demasiada história e ex-potências imperiais, não aguentará uma crise profunda em paz se cada um tratar de si.

 

Mas a Europa vive um dilema: salvar o euro sem mudar a sua arquitetura e sem democratizar a União terá o mesmíssimo efeito que deixá-lo. Se alimentarmos a ilusão que podemos salvar a moeda destruindo a economia e as democracias nacionais o fim será o mesmo, mas ainda mais destrutivo. Quem julga que pode sacrificar tudo em nome do euro não percebe o que tem de salvar ao salvar o euro. Só uma reconstrução das instituições europeias e da política económica e monetária da União poderá salvar a Europa do buraco em que se enfiou.

 

O que está em causa, neste momento, é muito mais do que a economia. É muito mais do que o modelo social europeu. É até mais do que a democracia. São 65 anos de paz. O que me espanta é que perante tamanhos perigos os povos europeus, sem exceção, insistam em eleger, um após outro, pigmeus políticos. O que me impressiona é que, sendo ainda possível travar a desgraça e havendo tanta gente consciente da sua iminência, caminhemos todos para o abismo como se a caminhada fosse inevitável.

 

Publicado no Expresso Online

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