O cangalheiro acossado
"o que é importante é que as pessoas saibam que o país não vai mergulhar em dificuldades ainda maiores, porque nós estamos a cumprir com as nossas obrigações para puxar o país para cima"
Estas palavras de Pedro Passos Coelho, depois de ter sido vaiado em Gouveia, são um extraordinário - sobretudo porque é mais do que ordinário - exercício de cinismo. Em pouco mais de seis meses de governo PSD/CDS, o país estourou. O desemprego aumentou para níveis nunca vistos. Todos os dias fecham dezenas de empresas no país. Há cada vez mais pessoas a passar fome, desempregados de longa duração a perder o direito ao subsídio de desemprego, beneficiários do RSI caem na pobreza extrema. As exportações baixaram drasticamente. O consumo, privado e público, teve uma retração que nos transportou directamente para os anos 70. E, para cúmulo, estes esforços levaram apenas ao crescimento da dívida pública - de 102 para 110% - e nem a meta do défice se conseguiu atingir sem se recorrer a medidas extraordinárias extremamente onerosas para o futuro do país. Não há qualquer esperança no horizonte, se continuarmos neste caminho, e a Grécia é o melhor exemplo disto. Alguém que afirma o que está transcrito acima de forma descarada ou vive numa realidade paralela - o mundo cor-de-rosa a que os extremistas neoliberais representados por Vítor Gaspar aspiram - ou é um cínico mentiroso sem emenda. Venha o diabo e escolha.
O país estourou. Daqui para a frente, viveremos miseravelmente sob os seus escombros.