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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Inimigo público

Sérgio Lavos, 16.08.12

 

Brincar com o fogo, é o que o Reino Unido parece estar a fazer.

 

Relembremos: o fundador da Wikileaks foi acusado de crimes sexuais por duas mulheres, a quando da sua passagem pela Suécia. A Suécia pediu ao Reino Unido a extradição do activista para ser julgado por esses crimes. Os tribunais ingleses decidiram favoravelmente a extradição e Julian Assange refugiou-se na embaixada do Equador em Londres, pedindo asilo a esse país sul-americano. A decisão foi anunciada hoje. Prevendo a aceitação do pedido de asilo, o ministério dos Negócios Estrangeiros britânico emitiu ontem um comunicado ameaçando o Equador com a invasão da embaixada para capturar Assange. Mas esta intimidação apenas parece ter fortalecido a determinação do Equador: a Assange foi garantido asilo diplomático, decisão que se sobrepõe à extradição pedida pelos tribunais ingleses. O que significa que, neste momento, o Reino Unido não poderá tocar no activista, sob pena de infringir várias leis internacionais. O território da embaixada é estrangeiro e Assange, para todos os efeitos, apenas poderá ser resgatado numa operação ilegal. Nada a que o Reino Unido não esteja habituado - não esqueçamos a colaboração deste país na detenção ilegal de cidadãos de vários países levada a cabo pela CIA e nos voos ilegais sobrevoando nações que dizem respeitar as convenções de Genebra. De qualquer modo, entre estas operações secretas e um ataque a um país soberano vai uma distância que David Cameron não deverá transpor, mesmo querendo agradar ao aliado norte-americano. O que parece ir acontecer é o bloqueio à saída de Assange, o que pode violar, de acordo com as leis internacionais, a concessão de asilo. 

 

Julian Assange é uma ameaça. Não duvidemos. Uma ameaça a quem quer continuar a fazer da opacidade método e da ilegalidade regra de actuação. Os telegramas divulgados pela Wikileaks pareciam um assomo de transparência e de liberdade num mundo de interesses obscuros dominado por poderes subterrâneos. Não admira que estes poderes tentem fazer tudo para acabar com esta ameaça. O Reino Unido limita-se, uma vez mais, a fazer o trabalho sujo dos EUA. Um papel indigno, depois de um acontecimento que mostrou o melhor dos britânicos - os Jogos Olímpicos de Londres. Veremos até onde pode ir David Cameron na suspensão da dignidade britânica. 

 

Adenda: um comentário do leitor João Vasco Gama que esclarece as razões do fervor britânico e sueco em capturar Assange:

"Assange pediu Asilo ao Equador alegando o seguinte:

a) A Suécia tem uma tradição de extraditar prisioneiros para os EUA, mesmo quando isso vai contra a sua lei doméstica

b) Os EUA podem deter um indivíduo indefinidamente sem acusação judicial ou processo judicial, como aliás fizeram com Manning

c) Efectivamente vários altos responsáveis políticos dos EUA apelaram à prisão ou assassínio de Assange, alegando que é um "terrorista" 

d) Apesar da Suécia ter emitido um mandato de captura, e até um mandato de captura internacional tão prioritário que nem mesmo grandes ditadores (como o sírio) merecem tais cuidados, a Suécia ainda não formalizou nenhuma acusação contra Assange.


Postas estas alegações, a embaixada do Equador procurou encontrar uma solução: eles negariam o asilo a Assange desde que fossem dadas garantias de que não existiria extradição para os EUA. Foi em resposta à impossibilidade de dar tais garantias que o asilo foi concedido. Aliás, isso foi dito no discurso em que foi revelada a resposta do Equador ao pedido de asilo.

Mas isto não é novo: não só Assange dispôs-se a colaborar com a investigação sueca respondendo a todas as perguntas sem sair do território britânico, como se dispôs e ir para a Suécia desde que tivesse garantias de que não seria extraditado para os EUA."

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