O Dr. Miguel Relvas já pode pedir uma equivalência à Universidade de Palermo
"A estratégia é conhecida por “balão de ensaio” e tem vários níveis de sofisticação. É delineada nas altas esferas e é geralmente aplicada através de “fugas” de informação dirigidas a certos jornais “próximos” por intermédio de jornalistas “de confiança”.
Esta estratégia, tudo o indica, foi agora utilizada pelo Governo, a propósito da RTP, com algum grau de sofisticação. Mas há sempre alguma coisa que escapa ao controle e ajuda a perceber mais do que aquilo que se diz.
Neste caso, importa analisar todos os pormenores do que veio a público e do que é possível perceber do que não veio, porque eles fornecem sinais sobre o que verdadeiramente se prepara para a RTP. Vejamos:
- A notícia sobre a “hipótese em cima da mesa”, de concessão do serviço público a um privado e encerramento da RTP2, foi dada em primeira mão ao jornal Sol que a anunciou na sua edição electrónica ao fim do dia de ontem, antes de ser divulgada pela TVI no Jornal das 8 e hoje pela edição papel do jornal.
- O Sol é detido em 96,96% pela Newshold, grupo angolano cuja estrutura accionista é constituída por Pineview Overseas, S.A. (Sociedade Anónima sedeada na República do Panamá) e em 5% pela TWK – SGPS, Lda. (Sociedade por Quotas).
- A Newshold, dona do SOL, segundo notícias vindas a público está a preparar a sua candidatura à privatização de uma frequência da RTP, tendo para isso criado uma nova empresa e começado a contratar colaboradores para a elaboração do projecto.
- A notícia do SOL é assinada exclusivamente pelo vogal do conselho de administração do jornal, José António Lima, e não por jornalistas que geralmente cobrem os temas televisão e media, o que sugere ter o assunto sido tratado apenas ao mais alto nível no seio do jornal por alguém em posição de deter e poder controlar a divulgação da informação conveniente.
- Do lado do Governo, o escolhido para a execução da estratégia não foi, desta vez, um assessor ou um dos comentadores televisivos a quem o Governo costuma dar “cachas”- Marcelo ou Marques Mendes. O governo subiu a parada e entregou o serviço ao seu conselheiro e ministro-sombra com o pelouro das privatizações, António Borges, que nada tem a perder e tudo tem a ganhar em fazer o papel do “balão” que não se importa de ser desmentido se o “ensaio” não der o resultado esperado.
- E é aqui que entra a TVI. Seria coincidência a mais que a TVI se lembrasse de entrevistar António Borges no dia em que a notícia do dia era o buraco orçamental. Mas era preciso que António Borges – o escolhido pelo Governo para dar a cara - fosse a uma televisão fazer o spin, prevenindo a eventualidade de a notícia do Sol não corresponder ao que o Governo queria que fosse dito. A RTP estava fora de questão, a SIC ainda mais pelos motivos conhecidos: Balsemão é frontalmente contra a estratégia do Governo para a RTP. Então, quem melhor do que Judite de Sousa para conseguir entrevistar em cima da hora uma figura de proa ligada ao Governo como António Borges?
E assim o “balão de ensaio” fez o seu caminho…
Veremos se o serviço público de televisão acaba concessionado a uma entidade de seu nome Pineview Overseas, S.A., com sede na cidade do Panamá, República do Panamá… de cujos “testas de ferro” não foi até hoje possível conhecer os nomes."