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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A perigosa infecção do regime

Sérgio Lavos, 29.09.12

 

É verdade que o desempenho do Governo é deplorável, um rappel em direcção ao abismo, um buraco sem fundo de incompetência e perigosa ideologia. É verdade que Passos Coelho quis governar para ir ao pote e distribuir pela famiglia, e desde o início foi mostrando a fibra de que é feito: uma explosiva mistura de obstinação doutrinária, incapacidade técnica e falta de preparação politica. É verdade que o aclamado génio de Vítor Gaspar é um balão que se esvaziou ao primeiro relatório da execução orçamental, e o ministro das Finanças rapidamente se revelou como aquilo que sempre terá sido: um académico autista sem qualquer noção da realidade sobre a qual os seus modelos teóricos são aplicados. É verdade que Miguel Relvas é uma espécie de excrescência do caciquismo partidário, alguém que subiu na vida à conta da sua rede de conhecimentos e que apenas se viu alçado ao poder porque Coelho lhe devia esse favor (foi Relvas quem pavimentou o caminho da glória para Coelho dentro do PSD), tendo desde então feito tudo para retribuir os favores das clientelas que o foram alimentando ao longo do tempo, semeando presentes e trapalhadas em igual medida. Tudo isto é certo. Mas quem é realmente um perigo para a democracia é o primeiro-ministro sombra, o consultor pago a peso de ouro, a criatura que serve de corrente de transmissão do capital estrangeiro, o administrador da insolvência de Portugal, António Borges. As declarações de Borges de hoje são mais uma prova das verdadeiras intenções desta política de calamidade: entregar o país ao capital privado, vender a preço de saldo empresas do Estado. Parece evidente que a ideia da concessão da RTP terá sido dele. Ao criticar os empresários por terem recusado as mexidas na TSU - e de uma forma violentíssima, que mereceria uma resposta à altura* - Borges mostra de quem terá sido a ideia peregrina. E o repentino frisson à volta da privatização da CGD também não é coincidência.

 

Como poderemos tolerar que alguém com um passado obscuro e um papel de actor secundário na crise financeira de 2008 tenha uma influência tão grande junto do Governo? António Borges não foi eleito, não tem qualquer legitimidade para tomar decisões sobre o que quer que seja. Um Governo sem ideias, como o que temos agora, é não só um Governo de idiotas, mas uma arriscada experiência política. Borges é um facilitador, um agente dos interesses privados, e este Governo de idiotas está a deixar que Portugal se torne a sua quinta, uma pocilga para os empresários amigos chafurdarem. Temos de pôr cobro a este crime ou no fim não restará pedra sobre pedra. Quanto mais depressa, melhor.

 

*Os empresários já responderam, através de António Saraiva, que afirmou que a maioria dos empresários não contrataria Borges. Filipe de Botton, por sua vez, disse que ele “nunca trabalhou na vida, nunca teve de pagar salários e não sabe do que está a falar”

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