Aprender com a Grécia
O jornal alemão "Der Spiegel" deu a conhecer um relatório sobre a Grécia em que a troika propõe um novo perdão da dívida grega, desta vez para os credores institucionais. Claro que este perdão, a confirmar-se, vem tarde demais. Com a economia desfeita, será muito difícil para a Grécia conseguir recuperar. Ali já tudo se desfez.
Mas este perdão, como outras renegociações nos países intervencionados, é, mais uma vez, um aviso a Portugal. A estratégia do "bom aluno" faz com que sejamos o único País intervencionado que, no meio desta crise, é obrigado a cumprir tudo. Sem que com isso ganhe seja o que for. Caminhando a passos largos para a tragédia grega, chegará o momento em que seremos obrigados a renegociar a nossa dívida. A questão continuará a ser sempre a mesma: se essa renegociação será como este perdão grego, tão tardia que nada resolverá, ou se virá a tempo de permitir uma respiração para nossa economia crescer. Se, como a Grécia, apenas deixaremos de pagar alguma coisa quando já não tivermos como a pagar ou se, pelo contrário, servirá para nos reerguemos.
Tudo o que o Syriza defendia acabará por acontecer na Grécia: perdão de grande parte da dívida, fim do memorando. Só que, graças à coligação dos traidores da Grécia, acontecerá quando os credores já tiverem depenado um País inteiro. A pergunta que nos resta é esta: queremos ser a Grécia? Se continuarmos a ser governados por quem se recusa a defender o País e prefere representar os interesses dos credores, é isso mesmo que seremos. Para, no fim, continuando nesta espiral de endividamento e juros, não pagarmos na mesma o que devemos.
Renegociar de forma profunda a nossa dívida e denunciar um memorando que é uma sentença de morte já não devia sequer ser um debate. Devia ser um consenso nacional. Temos o exemplo da Grécia. É só aprender com os erros dos outros.
Publicado no Expresso Online