E se Cavaco Silva estivesse incapacitado?
Há um tabu que se tem vindo a formar à volta de Cavaco Silva. O seu silêncio é mais do que ensurdecer; neste momento de crise absoluta, de emergência nacional - como os comentadores e os políticos gostam de dizer - a sua ausência do espaço público é criminosa, uma afronta a todos os portugueses que estão a sofrer na pele as consequências da política de terra queimada do Governo PSD/CDS. Falar por enigmas é uma brincadeira de crianças, comunicar pelo Facebook um esvaziamento de autoridade pueril e incompreensível. O presidente da República tem de falar. Seja para apoiar o Governo e a sua política de destruição do país, seja para se afirmar contra. Cavaco tem de dizer qualquer coisa. O silêncio não é uma opção. Se é para esta redundância, esta inutilidade, que temos um presidente, não seria melhor acabar com o cargo e poupar uns largos milhões gastos num orçamento anual que, por exemplo, ultrapassa largamente o orçamento da Casa Real espanhola?
Nos corredores da política e à boca pequena, fala-se dos problemas de saúde de Cavaco. Toda a gente sabe - mas finge não saber - que o seu desaparecimento está relacionado com esses problemas. Se for esse o caso, e mais ainda tendo em conta o momento por que passamos, o país tem de saber com o que contar. Se temos um presidente da República que não pode exercer as suas funções, que o digam - não vivemos numa daquelas ditaduras que escondem a doença dos seus líderes. Se as razões do silêncio são outras, que o esclareçam. O país está a arder, a primeira figura da República não pode simplesmente desaparecer. Este é o pior dos tempos: quando o destino de 10 milhões de pessoas está nas mãos de incompetentes, incendiários e de gente que não está à altura do cargo que ocupa.
*A pergunta é feita por José Vítor Malheiros na sua crónica, no Público de hoje. Clicar para aumentar a imagem.