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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Ainda Chávez

Sérgio Lavos, 06.03.13
Data from World Bank

 

Um artigo de Owen Jones no insuspeito The Independent:

 

"Hugo Chávez tirou milhões da pobreza - e mesmo os seus adversários disseram que ganhou eleições forma justa e limpa

 

Se queremos aprender alguma coisa sobre direitos humanos na Venezuela antes de Hugo Chávez, basta googlar "Caracazo". É preciso ter um estômago forte. Em 1989, o então presidente Carlos Andrés Pérez ganhou as eleições apoiado por uma feroz base opositora das ideias de mercado livre: o FMI era uma "bomba de neutrões que matava pessoas, mas deixava os edifícios intactos", dizia ele. Mas após ter chegado ao palácio presidencial, deu uma dramática volta de noventa graus, implementando um programa de privatizações e aplicando uma terapia do choque neoliberal. Com a liberalização do preço dos combustíveis, estes aumentaram brutalmente, levando os venezuelanos empobrecidos para as ruas. Soldados abateram manifestantes a tiro. Morreram até 3000 pessoas, uma contagem de mortos horrível se comparada com a do massacre da Praça de Tiananmen - num país com 43 vezes menos pessoas. 

 

Foi o seu golpe falhado contra o assassino e cada vez mais corrupto governo de Pérez, em 1992, que lançou Chávez para a fama. Apesar de preso, Chávez tornou-se um símbolo para os pobres da Venezuela, há longo tempo a sofrer. Quando ganhou de forma esmagadora as eleições de 1998 com a promessa de usar o dinheiro do petróleo para ajudar os pobres, Venezuela era um desastre. O rendimento per capita tinha regredido até valores de 1960. Um em cada três venezuelanos viviam com menos de 2 dólares por dia. Os proveitos do petróleo estavam reduzidos ao mínimo.

 

Ao longo dos próximos dias, vai ser repetido de forma sistemática que Hugo Chávez era um ditador. Um estranho ditador: desde 1998, houve 17 eleições e referendos no país. Podemos pensar que foram fraudulentos. Quando venceu por larga margem em 2006, o antigo presidente dos EUA, Jimmy Carter, esteve entre aqueles que disseram que ele tinha ganho de forma justa e limpa. Nas últimas eleições, em Outubro de 2012, Carter declarou que "posso dizer, a partir das 92 eleições que monitorizei, que o processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo". Eu estive lá: podem pensar que eu sou como aqueles ingénuos esquerdistas ocidentais que visitavam as aldeias Potenkin na Rússia estalinista. Pertenci a uma comissão eleitoral verdadeiramente independente, composta por apoiantes e adversários de Chávez, que tinha sido anteriormente convidada pela oposição para supervisionar as suas eleições internas. Encontrámo-nos com importantes figuras da oposição que se manifestavam na rua contra Chávez, mas admitiram que viviam em democracia. Quando perderam as eleições, aceitaram a derrota.

 

Justiça Social


Na verdade, o próprio Chávez também teve de aceitar a derrota: em 2007, perdeu um referendo, e não protestou os resultados. Antes de ele chegar ao poder, milhões de venezuelanos nem sequer estavam registados para votar: mas campanhas massivas de recenseamento praticamente duplicaram o eleitorado. Há mais 6000 mesas de voto agora do que havia antes de Chávez. 

 

Por outro lado, as credenciais democráticas de muitos dos seus adversários certamente são questionáveis. Em 2002, um golpe ao estilo de Pinochet foi tentado contra Chávez, e apenas foi evitado por causa de um levantamento popular. Os media privados em geral apoiaram e incitaram abertamente ao golpe: imaginem que Cameron era afastado do n.º 10 de Downing Street por generais britânicos apoiados e incitados por estações televisivas de notícias. Mas os media na Venezuela são dominados por privados, alguns dos quais fazem parecer a Fox News esquerdistas ternurentos. A televisão pode ser justamente acusada de favorecer o governo, e talvez por isso apenas tenha uma audiência de 5,4%. Dos sete maiores jornais nacionais, cinco apoiam a oposição, e apenas um é apoiante do governo.

 

A verdade é que Chávez ganhou uma eleição após outra, apesar da muitas vezes viciosa hostilidade dos media, porque as suas políticas mudaram as vidas de milhões de venezuelanos que eram antes ignorados. A pobreza caiu de quase metade da população para 27,8%, enquanto a pobreza extrema baixou para quase metade. Seis milhões de crianças recebem diariamente refeições gratuitamente; o acesso aos cuidados de saúde gratuitos é quase universal; e os gastos com a Educação quase duplicaram em percentagem do PIB. O programa de alojamento lançado em 2011 conseguiu construir quase 350 000 casas, ajudando centenas de milhar de famílias que viviam em bairros da lata e casas degradadas. Alguns dos presumidos críticos estrangeiros deram a entender que Chávez efectivamente comprou os votos dos pobres - como se ganhar eleições em consequência de se ter criado maior justiça social fosse uma forma de suborno.

 

Alianças


Isto não significa que Chávez não possa ser criticado. A Venezuela já tinha uma alta taxa de criminalidade quando ele foi eleito, mas a situação piorou desde aí. Cerca de 20 000 venezuelanos morreram em crimes violentos em 2011: uma taxa de mortalidade inaceitável. Tanto como as drogas, a liberalização da posse de armas e a desestabilização provocada pela vizinhança da Colômbia, devemos culpar uma polícia fraca (e muitas vezes corrupta). Apesar de o governo estar a começar a constituir uma força policial nacional, o crime endémico é uma verdadeira crise. Quando falei com venezuelanos em Caracas, a assustadora falta de segurança foi um problema referido tanto por aliados como por adversários de Chávez. 

 

E depois há a questão de algumas associações de Chávez a nível internacional. Apesar dos seus aliados mais próximos serem governos de esquerda da América Latina - quase todos defendendo Chávez de forma apaixonada das críticas oriundas do estrangeiro - ele também apoiou ditadores brutais no Irão, na Líbia e na Síria. Certamente prejudicou a sua reputação. É claro que no Ocidente não podemos acusar Chávez de consciência limpa. Apoiamos e armamos ditaduras como a da Arábia Saudita; o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair recebe 13 milhões de dólares da ditadura do Kazaquistão pelo seu trabalho. Mas a nossa própria hipocrisia não absolve Chávez da crítica.

 

A chamada Revolução Bolivariana era demasiado dependente da reputação de Chávez, e inevitavelmente a sua morte levanta questões sobre o que irá acontecer no futuro. Mas não duvidemos: Chávez era o democraticamente eleito campeão dos pobres. As suas políticas tiraram milhões da pobreza e da mais abjecta miséria. Ele representou um corte com anos de regimes corruptos e com um sinistro desempenho na área dos direitos humanos. Os seus êxitos foram atingidos sob a ameaça do um golpe militar, a agressividade hostil da imprensa e fortes críticas internacionais. Ele provou que é possível resisitir ao dogma neoliberal que exclui grande parte da humanidade. Ele será chorado por milhões de venezuelanos - e é difícil não entender porquê. "

6 comentários

  • Sem imagem de perfil

    ricardo 06.03.2013

    parece que copiou essa cassete de um discurso qualquer em que acusava a esquerda de não querer pagar a dívida portuguesa depois do ''regabofe antes da crise''.
    É importante mudar-mos pelo menos a forma dos nossos argumentos, quando falamos de temas diferentes, de maneira a dar a impressão que opinamos realmente, em vez de apenas regurgitar.


    E cuba esta ainda hoje debaixo de um bloqueio internacional liderado pela maior potência democrática mundial... acho que ficam agradecidos por terem qq parceiro comercial.


    Relativamente aos pobres da venezuela terem ficado mais pobres, a cegueira ideologica parece estar a alastrar-se ao seu cortex visual... 


    Não sei se terá tratamento...
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    António 06.03.2013

    Escreve-se mudarmos...

    O bloquei internacional é uma desculpa mal amanhada do regime e da esquerda pop para justificar aquela merdola . Podem importar do resto dos países do mundo o que bem entenderem.

    Eu não disse que estavam mais pobres, disse que assim vão ficar quando o dinheiro se acabar. Com uma inflação galopante, o tecido industrial destruído e uma economia completamente escangalhada (como é típico nestas experiencias socialistas que a malta) só lhes resta mesmo rezar para que o poço não tenha fundo.
     
    Já agora. Um pais que produz 3 milhões de barris por dia e com 28 milhões de habitantes e mesmo assim conseguiu uma redução de pobreza a taxas idênticas aos restantes países da América latina não me parece que mereça grandes elogios. Eu gostaria de saber é onde foi parar toda essa massa para alem daquela utilizada para sustentar aquela carcaça do Fidel e manter a ilha a tona. Mas claro que corrupçao é coisa que nao existe na Venezuela.
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    ricardo 06.03.2013

    Gosto que me tenha corrigido um erro ortográfico... means i'm getting on your nerves...


    ''desculpa mal amanhada'' não é bem um argumento, é mais uma evasão...
    também gosto que não tenha capacidade crítica...


    E em relação a previsões alarmistas e apocaplíticas para a economia da venezuela, não vá por ai, porque quase que parece o sergio lavos a falar da economia portuguesa, só que pior fundamentado.


    Também gosto desta pequena fuga para a frente da sua parte.


    em suma, a retórica e a argumentação não são suas amigas... fique-se pela regurgitação, e tenha esperança que ninguém repare.


    suck on that


    ah, e continue a votar no bloco central. confie na troika. pode ser que um dia nos encontremos numa iniciativa do banco alimentar.
  • Sem imagem de perfil

    precisavas de ter chávez por e du cattor 06.03.2013

    ou con ducattore uma cousa assis

    Porque só em Mérida alfabetizou os 30 mil que nasceram desde que tomou posse passando a taxa de analfabetismo de Mérida dos 0% de Pérez para -30% com Chávez, Chávez espécie de Estaline todo culto alfabetizou no papel todos os que nasciam e até defuntos logo os 10% que ele ensinou a escrever eram sobretudo madeirenses e algarvios analfabetos e seus hijos
    logo dos 5 milhões de venezuelanos que tinham uma instrução menos que básica chávez deu 2 milhões de diplomas das nuebas opurtunidades em venezuelano techno e os que não sabiam ler nem escrever, passaram a escrever como o galeón que atraca mesmo de proa que nã sabe que um daemon grego é um ESPÍRITO BENEVOLENTE que segundo PLatão e provavelmente seu mestre Sócrates era um espírito que entrava pelo buraco do déficite mental a que chamam túnel
    e o tal daimon grego vivendo num país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo.
    pois sem petróleo acaba-se a internet
    e há um inverno nuclear
    comida que é para a piolheira a venezuela tem de ir importando pois é uma riqueza natural menor

    e nem chávez dinamizou a agricultura pois para quê exportar comida prós chineses se temos pitroil disse o espírito benevolente

    o velho do restelo morou nesse país alguns anos tal como milhões de outros imbecis e nem foi raptado porque conheceu biblicamente um país várias vezes maior que o monturo onde nasceu e obviamente sabe muito bem o que ele era e por extrapolação o que ele é 20 ou 40 ou 100 anos depois pois antes de chávez era o deserto cultural.....

    Quer ajudar os países sul-americanos, e especialmente Cuba em 14 anos tal como em Portugal o grande mestre da educação não forma médicos
    compra médicos.
    Cuba envia médicos, ele paga com petróleo.

    na época em que os animais falavam , nunca vi um médico.
    Agora sim há médicos. A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chavez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao céu marrxista

    é um daimon grego
    um espírito benfazejo

    não sabem pescar?
    compra-se peixe com petróleo

    não formam médicos suficientes?

    compram-se médicos com petróleo

    os militares educados revoltam-se e dizem aos políticos para lhes darem o que querem ou ?

    compram-se militares com petróleo?

    nã sey quem é o galeano

    mas parece-me um génio

    ou um daimon grego...gasta quanto petróleo aos 100?
  • Sem imagem de perfil

    ricardo 07.03.2013

    (bocejo)

    amigo aprenda a ter capacidade de síntese.  se não consegue expressar uma opinião em dois ou três parágrafos, não esteja a espera que as pessoas leiam o que escreve.


    se eu quiser ler parvoíces de direita extensas, há melhores fontes que um idiota a comentar posts na internet.


    quantidade não é qualidade. 


    tome um kompensan para a azia, e toca a lavar os dentes e caminha, que amanhã é mais um dia a tentar que o partido lhe arranje um tacho.
    força TROIKA, toca a roubar!
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