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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Notícias da frente vermelha

Sérgio Lavos, 16.11.10


O Bruno decide, e bem, lembrar a situação vivida por Jorge Costa quando Co Adrianse passou pelo FCP, a propósito de Nuno Gomes. Poderia recordar também a história de amor interrompido entre Vítor Baía e José Mourinho, alguns anos antes, na mesma agremiação - com um breve prelúdio barcelonesco. Mas as lágrimas de Nuno Gomes têm uma explicação mais prosaica: a morte do pai; e uma mais poética: o fim de uma carreira. Dois fins, uma bola dividida com um guarda-redes momentaneamente desajeitado, e um golo celebrado por uma generosa multidão de adeptos que reconhece os seus nos bons e nos maus momentos. Diga-se que nem tudo serão rosas; a marca registada do avançado, o "falhanço à Nuno Gomes" - que ele, de resto, não deixou de acolher com um sentido de auto-ironia raro em desportistas, quando aceitou participar num anúncio televisivo em época de Mundial que glosava a expressão - deixou muitos amargos de boca pelo caminho e alguns cabelos arrancados ao mais paciente. Mas há, claro, a irracionalidade disto tudo. O carinho que lhe fomos dispensando ao longo dos anos, num misto paternalista de esperança e de resignação, teve a sua justa retribuição em algumas épocas bem conseguidas e atingiu um ponto alto no Europeu de 2000. No meu caso, o que me ficará da carreira de Nuno Gomes será, acima de tudo, aquele golo marcado à França, de fora de área, que me fez acreditar que poderíamos finalmente chegar a uma final e ganhar alguma coisa. É suficiente? A retórica é inútil, e nem será necessário repetir o cliché futeboleiro - o futebol é feito destes momentos - para dar de barato que aquela é a marca de Nuno Gomes: quando menos esperamos, ele supera-se e decide jogos.

Na última frase, hesitei sobre o uso do tempo verbal. Presente ou passado?  O presente de um jogador de futebol prolonga-se durante um tempo mais curto do que o comum dos mortais. Mas cada instante de glória, provisória, passageira, acabará por ficar gravado, se não na memória, pelo menos nos arquivos de uma qualquer estação de televisão que se encarregará, no futuro, de repetir jogos de campeonatos antigos. As lágrimas de Nuno Gomes, em nome do pai, seriam também as lágrimas de uma raiva final, quase de um mau melodrama, um dos últimos momentos de aplauso no estádio que o viu falhar e conseguir em igual medida. A Nuno Gomes, poeticamente, nunca terá deixado de se aplicar o lema de Samuel Beckett: "Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor." É mais do que suficiente. Presente.

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