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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Eleição

Sérgio Lavos, 20.11.10


Alexander Payne, de quem já vi o interessante As Confissões de Schmidt e o excelente Sideways, conseguiu na sua segunda obra, Election, antecipar a ascensão e quase domínio de Sarah Palin na política e sociedade americanas. O filme é de 1999, e provavelmente a personagem interpretada por uma Reese Witherspoon em brilhante início de carreira - uma adolescente candidata ao lugar de presidente da associação de estudantes de um liceu ambiciosa, disposta a tudo (como Nicole Kidman no filme homónimo de Gus van Sant) para conseguir atingir os seus objectivos - é um tipo comum nos E. U. A. Conhecemos a ideia; mas a verdade é que o final, quando vemos onde chegou a adolescente sem escrúpulos, é estranhamente familiar e revelador. Depois de Sarah Palin, outras estrelas em ascensão na ala ultradireitista do Partido Republicano, o Tea Party, perfilam-se para tomar o poder e concretizar os sonhos de uma classe média wasp, que tem a sua mais perfeita encarnação nestas soccer moms. Pela mão cínica e perspicaz de um dos mais estimulantes realizadores americanos surgidos nos últimos dez anos, vemos a realidade a imitar a ficção; ou, mais a sério, percebemos que a arte mais verdadeira é aquela que consegue entender na perfeição o rumo que a sociedade está a tomar. Por outras palavras, ler os sinais que nos rodeiam. Payne, transformando em imagem as palavras de Tom Perrotta, o romancista dos subúrbios das pequenas cidades, aproxima-se do trabalho de outros realizadores, como o referido Gus van Sant, Todd Haynes, Todd Solondz ou o irregular Sam Mendes (em Beleza Americana). Ainda que o caminho entretanto seguido se distancie desta obra - menos verve ácida, mais contenção e portanto mais emoção - vale mesmo a pena encontrar tais coincidências neste filme relativamente esquecido.

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