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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Papéis trocados

Daniel Oliveira, 22.01.05
ANTÓNIO Mexia anuncia com uma urgência inusitada 2-travessias-2 para o Tejo. E aproveita para desenhar no mapa o traçado do TGV. Era fundamental que o fizesse. Afinal de contas, vai começar a rodar em 2012, daqui a dois ou três governos.

Paulo Portas, recordista em salários para assessores e com uma generosa quota em colocação de lugares no Estado, lança a sua campanha contra o clientelismo no Estado. Na mesma linha moralizadora da política, candidatos do CDS preparam-se para ir ao Estádio do Dragão, ao beija-mão a Pinto da Costa. Mais uma facada no seu parceiro de coligação. Pelo país, cartazes do CDS dizem-nos que «A lealdade é útil a Portugal». E a «competência» também, explica o partido de Mariana Cascais, Nuno Fernandes Thomaz e Celeste Cardona. E ainda mais a «convicção», reafirma o mais recente dos convertidos ao europeísmo.

No PSD, vice-presidentes matam-se em praça pública e Santana Lopes esbraceja num dos mais épicos naufrágios da história da política portuguesa. Contra ventos e marés, afoga-se, enquanto, num ataque sem precedentes a José Sócrates, o acusa de querer governar como ele governou.

Sócrates, esse, entrou em crise adolescente. Não há dia que não bata, amuado, com a porta do carro. Não mete os pés nos debates, não fala com jornalistas e parece estar zangado por haver quem queira que ele faça campanha.

Resumo: o recordista das cunhas e das facadas faz campanha pela moral e pela lealdade, o primeiro-ministro faz oposição a si mesmo, o líder do maior partido da oposição, em plena idade do armário, não faz campanha e um governo de gestão apresenta planos quinquenais.

Não pensem que não aprecio o espectáculo. Os actores são bons. Os papéis é que estão todos trocados.