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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Os medos da esquerda

Daniel Oliveira, 30.04.05
O PCP, a quinta força em Lisboa, queria ser tratada como se fosse a primeira. Razão apresentada: o PCP é muito mais forte nas autárquicas e nas últimas em que concorreu sozinho em Lisboa, em 1985, teve 27%. Só que nessas mesmas eleições, recorde-se, teve 20% dos votos, a nível nacional. Nas últimas autárquicas, há quatro anos, teve metade. Mais: em 1985 teve, em eleições legislativas, 18% no concelho de Lisboa. Agora tem menos de metade. Não preciso de continuar, pois não? Nem o PCP vale o mesmo que valia há vinte anos, nem as diferenças dos seus resultados entre autárquicas e legislativas são as mesmas de então. Que o PCP se queira conservar em formol, é legítimo. Que possa fazer o mesmo aos seus resultados é que é mais discutível.

É normal que, na negociação com o PS, não se tenha passado ao debate programático. Todos sabiam que era nos lugares que a coisa ia empanar. As propostas do PCP eram de tal forma estapafúrdias que só podiam querer dizer que, não querendo a coligação, também não queria ser responsabilizado pela sua inexistência. Só que, para ser justo com o PCP, é preciso dizer que não esteve sozinho nesta estratégia. Na verdade, toda a esquerda fez o mesmo.

Trata-se de uma história antiga. Mesmo quando o seu eleitorado as quer ver juntas, como parecia ser o caso, as esquerdas têm medo. Medo do «frentismo». Medo de não ditar as regras. Medo de perder a pureza original. E, apesar de tantos medos, todos parecem ter mais olhos do que barriga. As esquerdas vivem assim há 31 anos. Porque a nossa democracia nasceu de um combate entre elas e elas ainda não saíram desse tempo. Ainda não ultrapassaram, todas elas, a arrogância ideológica, os ódios acumulados, as guerras do passado. E é pena. Lisboa estava precisada de algum sentido prático. Não houve.