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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Espírito Santo de orelha

Daniel Oliveira, 17.07.05
QUANDO foi o caso da nomeação do director do «Diário de Notícias», apesar da PT ser uma empresa privada, logo todos apontaram o dedo ao poder político: o problema estava na «golden share» do Estado. Quando foi o caso do afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, a cena repetiu-se. Apesar de se tratar, mais uma vez, de uma empresa privada, o problema estava na dependência da estação em relação a decisões do Estado. Agora é a vez do braço-de-ferro entre o Banco Espírito Santo e o EXPRESSO.

O BES tem aparecido, no último ano, alegadamente envolvido em inúmeros escândalos: o caso Euroamer, o caso Portuccale, a lavagem de dinheiro de Pinochet na Florida e o escândalo da compra de deputados da oposição no Brasil. Tudo isto é, em qualquer lugar do mundo, notícia. Caso se trate de uma tenebrosa cabala internacional, o banco poderá sempre limpar o seu nome. Mas quer mais. Muito mais. Quer o silêncio. E, para tanto, não hesita em usar o seu poder económico, cortando as relações comerciais com o grupo liderado por Balsemão. A resposta de uma empresa de comunicação social foi, por uma vez, exemplar.

Por tudo ser demasiado evidente e o oponente demasiado forte, é claro que o grupo de Ricardo Salgado sabe que por agora não levará a melhor. Mas quer deixar um aviso à navegação e aos restantes escribas: antes de pensarem sequer em escrever uma notícia, uma opinião, um comentário, olhem para quem vos paga os jornais. A autocensura é a mais eficaz das censuras. O crime perfeito, o que não deixa pistas. E nestes jogos de poder, o Espírito Santo está sempre entre nós. Uma vantagem: talvez todos fiquem finalmente a saber quem manda neste país. Conto-vos um segredo: não é o Estado.