O nojo
Sem tirar os olhos da televisão, o dono do hotel diz só "Líbano", "crianças" e aponta para a televisão para eu ver. Um amigo dele, de olhos cerrados de raiva, acrescenta: "Israel". Eu pergunto se os sírios se vão manifestar. Ele responde: "Para quê? Eles não vão parar por causa de nós, pois não?" E, como um idiota, eu respondo: "Talvez a Europa..." Ele sorri e encolhe os ombros. Volta a olhar para a televisão com aquela cara que todos temos quando o choque se mistura com a indignação. Não é nem nunca será um suicida, não é um fanático, não espuma da boca quando fala dos ocidentais. é apenas dono de um hotel para jovens europeus e americanos. Podia ser qualquer um de nós, como nunca por essas bandas se imaginam os árabes. Desumanizar o outro é sempre o primeiro passo para o ódio. Mas os olhos dele, geralmente serenos, são de raiva. Quanto mais vejo as imagens, mais os meus ficam como os dele. E acabo por ser eu a dizer: "filhos da puta!"