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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Da gratidão

Bruno Sena Martins, 27.05.10



Perante uma estrutura avassaladora como a do Porto, perante um presidente creditado como Pinto da Costa, o erro de Jesualdo foi não ter sido capaz de um mínimo de narcisismo: em momento algum se preocupou em ser uma figura de estilo, jamais se insurgiu publicamente contra os caprichos de uma direcção que cumpriu a irónica tripleta de lhe estilhaçar a equipa em 3 anos consecutivos. Ganhou três títulos e nunca fez menos que os oitavos de final na Champions (soçobrou perante o Shalke numa eliminatória embruxada pelo Manuel (Neuer) e perante o Chelsea em Stamford Bridge, com um frango do Helton), e chegou ainda aos quartos de final onde só perdeu com o Manchester United (o golo do ano de Ronaldo lixou-nos depois do empate em Old Trafford).

Eu teria apostado em Jesualdo por mais uma época, mas entendo que a ingratidão dos adeptos portistas tenha criado um clima anímico insustentável (pergunto aos céus que fazer num período histórico em que  um treinador é avaliado pela qualidade da gola, pela sua telegenia, pela apetência pró-fílmica e pela  capacidade de encarnar uma personagem para cuja consistência caracterológica o plácido adepto esteja pré-disposto (a partir daquilo que vai vendo nas novelas): o sargento mandão, o grisalho de sobretudo, o giraço de camisa, o bronco que subiu a pulso, o totó simpático, o giraço com apetência para seduzir a mulher do adepto, o mandão com risco ao meio, o Tony Ramos, etc.

Jesualdo rescindiu com o Porto e foi convidado para ser director técnico de todo o futebol. Para já, não, diz.   Quer treinar mais 2 ou 3 anos mas é muito provável que volte ao Dragão. Na ordem da tragédia isto é, ainda assim, o mais airoso que se consegue. Na minha maturidade táctica (hoje em dia percebo mais disto que o Toni, que o Valdemar Duarte, que o Rui Santos,  que o João Querido Manha, que o José Eduardo e o que Jorge Baptista juntos), na minha maturidade táctica, dizia,  Jesualdo foi o melhor treinador que vi treinar o Porto a seguir a Mourinho, e como fenómenos metafísicos não são para aqui chamados, cabe reformular: foi o melhor treinador que vi treinar o Porto.

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