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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Subsídios

Daniel Oliveira, 25.10.06
A propósito do Rivoli, alguns intelectuais em sabática constante voltaram ao tema da subsidiodependência da cultura. São os mesmos que não se cansam de explicar que este país é analfabeto, uma piolheira sem remédio, um atraso de vida. Os mesmos que nos mostram o que se faz “lá fora” e avaliam o país pelo prime-time da televisão. Os mesmos que querem defender o património construído com dinheiro público. Mas quando chega à produção cultural, aqui e agora, vêm em defesa do mercado, mesmo sabendo que o mercado português tem uma dimensão que torna o mainstream um produto para nichos de mercado e o resto para mercado quase nenhum. São os mesmos que exigem dos políticos menos populismo e mais impopularidade no momento das decisões difíceis. Os mesmos que querem uma escola que não siga as modas e não facilite. Mas quando chega à cultura, transformam o mercado num sufrágio democrático e acusam o Estado de subsidiar as elites. Mas a verdadeira razão da sua indignação é outra: o subsidio liberta a arte dos constrangimentos ideológicos do mercado, bem mais eficazes do que os do Estado. Se é a verdade que o Estado já dominou a cultura pelo dinheiro, hoje, em sociedades democráticas, paga mais vezes a quem o critica (refiro-me à critica ideológica, não à critica personalizada) do que o contrário. A arte é mesmo um dos poucos espaços de construção de hegemonia cultural em que isso acontece. O que tem consequências políticas. É apenas isto que lhes custa.

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