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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Só se perdem as que caem no chão, não é?

Daniel Oliveira, 21.12.06



A Associação Sindical de Juízes decidiu dar um parecer contra um pormenor da revisão do Código Penal: o que inclui no crime de violência doméstica aquela que aconteça em casais de pessoas do mesmo sexo.

Não sei qual das razões apresentadas é a melhor: que «a protecção da família enquanto composta por cônjuges do mesmo sexo tem um notório – e apenas esse – valor de bandeira ideológica, uma função, por assim dizer, promocional»; que não existe «relação de superioridade física do agente em relação à vítima»; que não havendo casamento entre pessoas do mesmo sexo não se pode falar de violência doméstica e que faze-lo seria deixar «entrar pela janela aquilo que não entrou pela porta»; e que «não está minimamente demonstrado que essas situações existem – o legislador deve legislar sobre o que geralmente acontece, não sobre o que pode acontecer».

Tudo errado. Desde a primeira à última linha. A não descriminação segundo orientação sexual está na Constituição e por isso a questão é constitucional e não ideológica. A tipificação do crime de violência doméstica não serve nem para defender a família nem para a promover, mas para defender individuos. A lei já prevê a violência doméstica em uniões de facto, que estão legalizadas para os casais de homossexuais, e até fora dela. A violência doméstica inclui violência psicológica e prevê que os homens possam apresentar queixa de violência por parte das mulheres. A «superioridade física» (?) não é uma questão. A Associação de Apoio à Vitima tem queixas registadas de violência doméstica em casais de pessoas do mesmo sexo.

Perante o disparate, um dos doutos juízes que deu este parecer admitiu não ter pensado, quando o redigiu, «na situação dos heterossexuais em uniões de facto» que já podem apresentar queixa por violência doméstica. E reconheceu que assentar a sua posição no argumento na existência de uma relação de superioridade física «pode ser redutor». A questão é se chegou a pensar em alguma coisa. Se ao dar o parecer fez algum trabalhinho de casa. Ou se é ele que é movido, não digo por bandeiras ideológicas, mas por reflexos pavlovianos.

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