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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Jornada 6 - A decadência de Otamendi

Bruno Sena Martins, 30.09.10
Publicado na Liga Aleixo

Bastou o Villas-Boas deixar Otamendi ir para dentro de campo e o homem logo tratou de “marcar um golo na estreia” - Otamendi, curioso nome, soa como que vindo da América do Sul, mas afinal vem da Argentina. Causa-me sempre tremendo assombro quando vejo as parangonas dos jornais a celebrar um jogador que marca na estreia. Tal assombro deve-se, em parte, ao facto de eu não ter tido muito feliz sempre que tentei fazer algo de marcante na estreia, mas, enfim, deixemos de falar da minha vida que já passou muito tempo e, às tantas, com a minha cara sempre a mudar e o cabelo a cair, um dia a rapariga de Serviço Social vai deixar de me apontar na rua, para gáudio das amigas, só pelo capricho de publicitar a pior estreia de sempre desde que Renteria se estreou a jogar no Estádio da Luz.

Na verdade, mais do que lembrar aquela tarde aziaga no Jardim da Sereia, durante o desfile da Queima das Fitas, no longínquo ano que corre, ao ver Otamendi ser exaltado como um caso de sucesso na estreia os meus pensamentos vão directos para o Pena, o melhor marcador menos memorável que já passou pelo futebol português. Caso esteja esquecido, saiba o querido leitor que o bom do Pena se estreou marcando dois golos na época em que se sagraria Bota de Ouro 3 golos à frente do van Hooijdonk. O eclipse futebolístico de Pena, que pouco tempo depois de ser campeão pelo Porto já aquecia o banco do Braga (inaugurando o caminho mais tarde seguido pelo Adriano), nem sequer deve às drogas, como sabemos o único álibi no futebol para que a decadência não seja considerada patética.

Ao que parece Pena foi usurpado pelo seu empresário e perdeu aquela boa relação com as balizas, pelo menos assim se forjou a hipótese de uma decadência quase charmosa: temos um vilão e uma vítima que após perder o dinheiro do banco perdeu intimidade com o labor das balizas. Pessoalmente, não querendo duvidar da apetência dos empresários para a ladroagem, parece-me uma desculpa demasiado recorrente entre os jogadores de futebol. A minha tese é que Pena nunca teve boa relação com as balizas, com a bola e, dou de barato, nem com os empresários; Pena foi apenas um jogador que no jogo da estreia ganhou confiança para fingir ser o jogador que ninguém imaginava que ele pudesse ser. No fundo o efeito de uma estreia bem sucedida cumpriu o seu prazo de validade.

Percebem, pois, que mal tenha conseguido acabar a grelhada mista quando me apercebi que teria sido Otamendi o autor da recarga ao golo do Hulk. Não se trata de superstição, mas um clube deve honrar a sua história e a história do Porto passa pelo Pena, como passa por fazer os jogadores acreditar que conseguem ser melhores do que aquilo que são. Com esta história do golo na estreia, com o efeito determinante que a majestade inicial dos começos sempre tem no encetar uma relação, a decadência é a única coisa resta ao Otamendi na sua passagem pelo Porto. Depois do Pena, uma decadência lenta é tudo quanto peço.

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