Retrato II
Ver texto do "Público" em baixo.
A História e o futebol são motivo de orgulho para os portugueses... e as artes também
28.02.2007, Clara Viana
Só os Estados Unidos e a Venezuela batem Portugal no que toca à importância do passado histórico, revela estudo sobre identidade nacional que comparou 42 países
a Orgulhosamente portugueses: não parece, mas é deste modo que nos descrevemos, revela um estudo sobre Identidade Nacional que será hoje apresentado no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa. E o que faz de nós seres orgulhosos da sua nacionalidade? A História, sobretudo, mas também o desporto, as artes e a literatura, adianta o antropólogo e historiador José Manuel Sobral, um dos coordenadores da investigação.
É o passado que garante um lugar no pódio a Portugal. Cerca de 92 por cento de portugueses dizem sentir orgulho na história do país. Em 42 países auscultados no âmbito desta investigação, é uma percentagem só ultrapassada nos Estados Unidos e na Venezuela. Orgulhamo-nos também com o futebol - o desporto vem a seguir à História.
E, surpresa, os portugueses sentem-se mais orgulhosos com as suas artes e literatura do que os nacionais de países como a Irlanda, os EUA ou a Rússia, revela José Sobral. Ufano com a sua História, Portugal não está, contudo, entre os mais patriotas. Embora figure entre os mais nacionalistas. Segundo os autores do estudo, é o que se conclui a partir das respostas a perguntas como esta: "As pessoas devem apoiar o seu país mesmo quando este toma uma posição errada?" Uma persentagem de 50,5 dos portugueses respondem "sim". É uma das mais altas.
Mesmo assim, não são apresentados entre os patriotas. É uma questão de definição, e a que foi utilizada para este estudo afasta-os. O problema é que os portugueses engrandecem o passado na mesma medida em que desprezam o presente. "O pequeno povo que fez um grande império" já há muito que não alinha entre os grandes e não arrisca sequer comparações com a vizinha Espanha. Estão pessimistas, desconfiados, sublinha José Sobral, e isso reflecte-se quando são chamados a identificar quais são, para eles, "as fontes de orgulho na situação presente de Portugal". Entre as quais figuram itens como a Segurança Social, a democracia, a governação, a influência política do país, etc.
É a partir destes indicadores que são calculados as chamadas "médias de patriotismo". Numa escala de 1 a 4, Portugal fixa-se nos 2,14, contra 2,71 de média na União Europeia.
Identidades valorizadas
Dando a si próprio tanto passado e tão pouco presente, o país não surpreende neste estudo. "Continua sempre a olhar para o passado. Mesmo quando inova e realiza, é sempre o passado que evoca. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Expo "98", diz José Sobral.
Qual o aspecto mais importante para se ser um verdadeiro nacional? Respostas dos portugueses: o conhecimento da língua (94,7 por cento) e ter antepassados nacionais (83,4 por cento). A primeira resposta coloca Portugal na média europeia, mais associada à chamada "representação cívica" da identidade nacional. A segunda remete-nos para junto daqueles que têm uma "representação etnista" da nação. Ambivalentes? "Estão nos dois lados, mas são dos que dão mais ênfase à dimensão étnica, aos antepassados, valorizam a pertença a uma comunidade no tempo que, no seu caso, fazem recuar aos lusitanos", diz José Sobral. Desta importância dada aos ancestrais pode-se também concluir que Portugal "não é um país muito aberto à imigração", acrescenta.
Realizado no âmbito da rede de pesquisa International Social Survey Programme, que em Portugal está integrado no programa Atitudes Sociais dos Portugueses, do ICS, o estudo que hoje será apresentado conclui que a percepção das identidades nacionais continua a ser um caso sério. Apesar da globalização, "não foi desvalorizado", comenta José Sobral. Em Portugal, foram realizadas para esta investigação 1602 entrevistas entre Abril e Setembro de 2004. Mais informação em http://zacat.gesis.org/webview/index.jsp.
Existe "um forte recalcamento da questão étnica" na Europa, diz José Sobral com base nos dados recolhidos no âmbito do estudo sobre identidade nacional. Na Alemanha, por exemplo, e contrariando o que se registou no passado, a importância da ancestralidade quase não é referida. É a culpa alemã ainda a trabalhar, arrisca o investigador
Também a Eslováquia e a Eslovénia tendem a desprezar a importância dos avós. A "representação etnista" da nação é forte na Irlanda, Áustria e Espanha, mas sempre com valores inferiores aos recolhidos em Portugal.