Entre 20 e 24 de Maio, Belgrado recebe a 53ª edição do Festival Eurovisão da Canção. O Festival da Canção já conheceu melhores dias na Europa e em Portugal. Durante a minha infância e adolescência o País parava para ver os seus ilustres representantes serem humilhados. E gostava. Continuamos a ser humilhados mas já nem damos por ela. O que é uma pena. Este ano a nossa representante é Vânia Fernandes. Quem é esta serigaita ao pé de um António Calvário, Carlos Mendes, Simone de Oliveira, as Doce, José Cid, Armando Gama ou Maria Guinot? Que falta de respeito pela memória de Shegundo Galarza e Thilo Krassman.
Aqui, diariamente, recordarei o que de melhor na cultura portuguesa se produziu. Excertos da melhor poesia. Sempre a mesma história de amor. Ele só pensa nela a toda a hora, sonha com ela p'la noite fora, chora por ela se ela não vem. E assim continua de ano para ano. O vento muda e ela não volta, ele sabe que ela mentiu, para sempre fugiu. Anda fugida nas asas do sonho. Acha ela que é bom andar sem Norte, não precisar visto, nem usar passaporte. E ele perdido como o fumo subindo no aaaaaaa-aaaaaa-aaaaaaar, como balão que sobe sobe, como o papagaio que voa, dai li, dai li, dai li, dai li dou, anda pelas ruas indiferente, caminhando sem mais notar a gente que por ele vê passaaaaaaa-aaaaaa-aaaaaaar. Anda assim ele no meio de tanta gente recordando esse amor sem grade, fronteira, barreira, muro em Berlim. Um sonho, um livro, uma aventura sem igual. Recorda aquelas noites que duravam até às seis e meia de loucura, em que ela vinha em flor e ele a desfolhava. E a desfolhada era com amor amor amor amor amor presente. No meio da loucura ela implorava «Não sejas mau p'ra mim, oh oh...». E ele dizia: «Bem bom!». Ái, que foram vidas tão cheias, foram oceanos de amor!
Desde António Calvário simulando uma reza às escandalosas Doce, passando por Pedro Osório de cravo ao peito, o Festival da Canção era um excelente retrato do país. Mas chegou uma altura em que a coisa descarrilou. Tornou-se, por assim dizer, demasiado estrangeirado - apesar de, no início dos 80, o «Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye, amore, amour, meine liebe, love of my life» de José Cid e o "Play Back" de Paião ter começado esse processo. Por isso irei apenas até 1989. E mesmo este é um ano de excepção, com os Da Vici a devolverem alguma dignidade coreográfica, poética e musical ao acontecimento. Antes disso, páro em em 1986, com o memorável "Não Sejas Mau para Mim", da inesquecível Dora. De 1964 ao final dos anos 80, aqui ficam, diariamente, até dia 20, os ilustres representantes do nacional-cançonetismo. Ái que saudades!
Excepcionalmente, começo esta autêntica cronologia da história musical portuguesa por um derrotado entre os derrotados. Um vulto da nossa cultura que em 1967 foi injustamente excluído em favor de Eduardo Nascimento. Já então o politicamente correcto fazia as suas vítimas. Senhoras e senhores telespectadores, a canção número 3: "Sou tão Feliz»:
Começa hoje, dia 11 de Abril, no Instituto Franco-Português, o colóquio internacional sobre o Maio de 68.
11 de Abril9h30 | Sessão de Abertura 10h | Maio no Mundo Fernando Rosas: Teses sobre a geração dos anos 60 em Portugal e a questão da hegemonia Gerd-Rainer Horn: Um conto das duas europas Manuel Villaverde Cabral: Maio de '68 como revolução cultural 14h30 | Ideias de Maio Anselm Jappe: Maio de 68, do «assalto aos céus» ao capitalismo em rede. O papel dos situacionistas Daniel Bensaid: Como será possível pensar que se possa quebrar o ciclo vicioso (da dominação) Judith Revel: 1968, o fim do intelectual sartriano
12 de Abril10h | Maio em Movimento Maud Bracker: Participação, encontro, memória - os imigrantes e o Maio de 68 João Bernardo: Estudantes ou trabalhadores? Franco Berardi (Bifo): 68 e a génese do cognitariado 14h30 | O Outro Movimento Operário Xavier Vigna: As greves operárias em França em 1968 Yann Moulier Boutang: Maio de 68, herança por reclamar na divisão de perdidos e achados da História John Holloway: 1968 e a crise do trabalho abstracto 18h | 1968 - 2008 Bruno Bosteels: A revolução da vergonha François Cusset: Os embalsamadores e os coveiros
Comemora-se nos próximos dias o aniversário da Comuna de Paris. A eleição e declaração da Comuna fez 137 anos no fim da semana passada. Fiquem com o documentário:
Para quem não viu "A Guerra", de Joaquim Furtado, aqui fica, via Avatares do Desejo, a primeira série completa: aqui, para descarregar, e aqui, para fazer busca no Google e ver cada um deles no Youtube.
O arquivo do jornal "Avante!", do tempo da clandestinidade, já está disponível on-line. Uma excelente iniciativa do PCP que facilita a vida a historiadores e interessados. Apesar de ser livre de manter reservados os arquivos do Partido, seria mais uma ajuda abri-los a estudiosos do Estado Novo. Pelo menos até uma data suficientemente distante (e que não envolva comunistas ainda vivos), garantindo assim o direito do PCP à legitima reserva de informação. A decisão cabe ao PCP e ninguém o pode criticar por não o fazer. Mas fica aqui o apelo. Seria uma excelente ferramenta para os historiadores do Estado Novo e da luta anti-fascista. Estou convencido que este é um primeiro passo nesse sentido.