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O PS abdicou da defesa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos. Trocou a sua matriz socialista pela adesão às teses neoliberais. Demonstra-se incapaz de questionar o poder do capital financeiro enquanto dono e árbitro do desenvolvimento económico. É dominado internamente por uma liderança autoritária que seca tudo à sua volta, que distribui lugares e se alimenta de promiscuidades. O PS acabou por se instalar no espaço do centro, tornando o país mais pobre, política e socialmente.
As considerações não são minhas. São de Ana Benavente, histórica militante socialista e antiga secretária de Estado da Educação. Reflectem o desencanto de uma significativa camada de militantes que não encontra em José Sócrates e na actual direcção do PS o arrojo político que caracterizou historicamente a social-democracia. Que, mais triste ainda, não vislumbram aí qualquer hipótese de reabilitação de um padrão ético que reequacione igualdade, liberdade e solidariedade. Não é um problema específico do centro-esquerda português, mas não há dúvida que no P português a erosão do S vai bastante adiantada. Veja-se, por exemplo, a inexistência de promoção de debate ideológico, o modo como maioritariamente se buscam diálogos e acordos com a face direita do espectro político, a forma como as estruturas dirigentes se mostraram enfastiadas com uma campanha presidencial que assumia claramente a defesa do Estado social e a crítica à chantagem dos mercados financeiros.
Será interessante perceber se no Congresso de Abril alguém se chegará à frente para fazer a figura de crítico do socratismo. António Costa e António José Seguro acham que ainda não chegou a sua hora. Manuel Maria Carrilho e Carlos César não estão disponíveis para desempenhar esse papel. É bem provável que ninguém se disponha a isso: os tempos futuros adivinham-se difíceis para um potencial sucessor de Sócrates e todos os militantes sabem que este eucaliptou bem o terreno em redor. Um adversário talvez desse jeito para que houvesse um simulacro de debate, mas o mais provável é Sócrates ter de ocupar-se sozinho do calor dos holofotes. Um passeio que dirá muito sobre o estado a que chegou um partido cada vez mais canibalizado pelo poder.