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Clint Eastwood perde todo o meu respeito. Restam os filmes e a admiração pelo homem que os fez. Este que aparece na convenção republicana é um outro.
"I am a very foolish fond old man,
Fourscore and upward, not an hour more nor less;
And, to deal plainly,
I fear I am not in my perfect mind." - King Lear
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Petição CINEMA PORTUGUÊS: ULTIMATO AO GOVERNO
Nos últimos anos, há uma área da economia portuguesa que tem tido um crescente destaque internacional, um produto feito em Portugal cuja qualidade tem sido reconhecida um pouco por todo o lado. Esse produto é o cinema. Prémios em grandes festivais, estreias em vários países, reconhecimento nas publicações da especialidade e até sucesso comercial em Portugal. Tudo isto mostra uma vitalidade incomum, uma excepção dentro do panorama desolador da economia nacional. E qual é o tratamento dado aos produtores, realizadores e autores pelo actual Governo? O silêncio. O corte sofrido no financiamento atinge os 100%. Leram bem, 100%, sem paralelo em qualquer actividade, cultural ou outra. A aprovação da nova Lei do Cinema, em preparação há doze meses, aprovada há três e desde aí perdida nos corredores do poder, sabe-se lá por que razões burocráticas, seria o passo suficiente para que o descalabro não aconteça. Não só os Concursos para 2012 não foram abertos como todas as produções relativas a 2011 estão paradas. Em qualquer lado, isto seria inadmissível. E mais inadmissível se torna num período em que o cinema português se tornou um bem exportável, imagem de marca de um país à procura de uma afirmação no mundo. Ser patriota não é trazer uma bandeirinha de Portugal (comprada nos chineses) na lapela ou ensaiar discursos bacocos e vazios quando o Fado é promovido a Património Mundial; é ter responsabilidade e não ser o grão na engrenagem bem oleada em que o cinema português estava a tornar-se - e não esquecer, sem financiamento directo do Estado, vertido em Orçamento. Este Governo não está a cumprir a sua função também nesta área. Assinar esta petição pública, cujos primeiros subscritores são os artistas que promoveram Portugal com os seus filmes, é essencial.
Adenda: para quem não saiba: o orçamento do ICA, o principal financiador do cinema português, é alimentado por uma taxa cobrada aos exibidores e distribuidores nacionais de cinema. Portanto, não há financiamento directo do contribuinte, através do Orçamento de Estado. E este financiamento é regido por regras claras e depende do êxito dos filmes que vão a concurso. O cinema, apesar de ser uma actividade cultural, património imaterial de um país (mesmo que desprezado por muitos), não recebe subsídios do Estado. Aconselhava-se um pouco de pesquisa antes de se emitir qualquer opinião sobre a questão do financiamento do cinema português, que é, aliás uma originalidade portuguesa, já desde os anos 70: todas as cinematografias nacionais dependem, em maior ou menor parte, do Orçamento dos países onde são produzidas. Os EUA, a pátria do cinema industrial, financiam milhares de produções todos os anos, através da PBS (televisão pública) e dos orçamentos estaduais. Conseguimos ser deste modo o único país do mundo onde o cinema consegue sobreviver apenas com essa taxa que não vem dos impostos dos contribuintes.
Por outro lado, os bancos, as escolas privadas, os empreendedores, etc., etc., etc, são subsidiados pelo Estado. Quem é subsídio-dependente, em Portugal, é grande parte do sistema financeiro e parte dos agentes económicos. Pensem nisto.
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Mais uma noite dos Oscares, a terceira com nove nomeados para melhor filme. Para quem gosta de cinema, o acontecimento acaba por ser uma baliza, o ponto final de um ano a ver filmes. Os milhares - ou milhões - de textos escritos sobre a cerimónia podem dividir-se em dois tipos: os cínicos, que ao mesmo tempo que dizem que os Oscares não têm nada a ver com cinema lá vão apostando nos (poucos) filmes que viram; e os outros. Os que se entusiasmam, e acham sempre que naqueles dez está necessariamente o melhor filme do ano que passou. Se olharmos para trás e tivermos visto suficientes filmes ao longo da vida, percebemos que raramente está. Não vale a pena enumerar os grandes filmes que não receberam o prémio e as mediocridades que o receberam. O cinismo pretensioso era uma fatiota que gostava de usar antes; agora menos.
Falemos então de Oscares. Dos nove nomeados, vi quatro, provavelmente a mais alta percentagem em muitos anos. Dos que não foram vistos, alguns de certeza que não irei ver, outros quem sabe. Não, não passei os olhos pel'O Artista. Poderei ver, mas algo me diz que aprenderei mais com dez minutos de qualquer um dos filmes de Chaplin ou de Buster Keaton do que com a hora e meia de pantomima a preto e branco numa era de CGI, 3D e câmaras digitais. Mas enfim, quem nunca viu um Stroheim na vida (Luís Miguel Oliveira dixit) que atire a primeira pedra. Pelas mesmas razões não terei gostado também de Meia-noite em Paris. Sim, Woddy Allen é um génio, descansem. Mas o postal turístico carregado de clichés - sobre Paris, sobre os anos 20, sobre os artistas, etc., etc. - torna o resultado final numa desilusão. Há muitos filmes de Woody onde aparece a personagem estereotipada do intelectual deslumbrado pela cultura europeia. A diferença é que neste filme ele torna essa personagem o tema, e sem o mínimo de distanciamento irónico - como acontece em Vicky Cristina Barcelona, por exemplo. E assim agrada-se a um público mais vasto - "Meia-noite" terá sido o filme mais visto do realizador nova-iorquino, desagradando-se os fãs habituais. Escolhas.
Moneyball é um daqueles filmes de que eu gosto: um biopic sobre um falhado ajudado por um nerd a ultrapassar-se até ficar maior do que a vida, ao ponto de haver alguém que se interesse pela história e faça dela um filme. Brad Pitt confirma que é um actor melhor do que o esperado, e que não é necessário representar um deficiente para uma cara bonita ser nomeada para um Oscar - e já são várias nomeações; para quando o prémio?
Restam os dois preferidos.
Há varias razões para gostar d'Os Descendentes: Alexander Payne, autor do genial Sideways, do excelente As Confissões de Schmidt, do brilhante Election e de uma curta-metragem, 14e arrondissement, incluída na obra colectiva Paris Je t'aime, que é uma pequena maravilha (para usar o lugar-comum). E Os Descendantes, será tão bom como estes predecessores? Aproxima-se de Sideways e fica muito perto da obra-prima em forma de curta, e isso é mais do que suficiente para ser melhor do que qualquer um dos outros nomeados. Menos um, de que falarei a seguir, não sem referir George Clooney. Grande papel, sem sair da sua pele. Clooney não é um actor de composição. Não desaparece nas roupas e maquilhagem como Meryl Streep - OK, dêem-lhe lá o centésimo quadragésimo quinto prémio, ou coisa que o valha, quero lá saber -, não é um actor do método, como Robert de Niro ou Al Pacino; não é um actor que se faça ao Oscar em papéis à medida, como Tom Cruise ou o mencionado Brad Pitt; mas é excelente no seu modo cool, versátil - faz comédia e drama em registos não tão próximos que se possa dizer que é um inexpressivo Keanu Reeves nem tão distantes que se possa comparar ao rei do histrionismo Jim Carrey -, e ganhou com o tempo uma espessura dramática que não lhe adivinhávamos por altura do Serviço de Urgência ou de um dos seus primeiros filmes, uma coisa sobre surf tão má que nem vale a pena ir ao IMDB ver qual o nome. Mas não vai ganhar hoje, o francês mudo levará a palma.
Mas acontece que este ano está nomeada uma daquelas obras que irão ser ainda vistas e admiradas daqui a cinquenta anos. Acontece que Terrence Malick é o autor da obra-prima. Acontece que a probabilidade de A Árvore da Vida ganhar é quase a mesma da receita de austeridade imposta pela Troika resultar em Portugal. Acontece que será uma injustiça, e que uma vez mais se provará que os Oscares têm tanto a ver com cinema como a venda de aguarelas na feira da ladra tem a ver com arte. Ou não, terá tudo a ver com a Sétima Arte: o glamour, os vestidos, a passadeira vermelha, Billy Cristal, os discursos, a magia. Estamos a falar e a escrever e a pensar sobre a coisa. Isso sigifica que deve ser o acontecimento mais importante do mundo do cinema. Mas não interessa: o cinema resiste ao hype muito bem. E continuará a ser feito, exista ou não Hollywood e a passadeira vermelha e os prémios e as desilusões e os cínicos e os discursos dedicados aos índios. Se tudo correr bem, e os Maias e o Medina Carreira não tiverem razão, para o ano cá estaremos.
(Publicado também no Auto-retrato.)
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Mais um filme "português" a ganhar um prémio no Festival de Cinema de Berlim. É o regozijo total nos media que andam o resto do ano a ignorar o cinema português. Até o Correio da Manhã, insuspeito de defender o parasitismo subsídio-dependente dos nossos cineastas, aplaude o feito. Os patriotas de ocasião é que têm razão: vou gozar este prémio enquanto português e deixar de dizer mal de um país que tem estes criadores que fazem a diferença apesar do desprezo com que são tratados por quem deveria zelar pela cultura nacional. Fica aqui um pequeno excerto de uma entrevista dada recentemente por João Salaviza a uma publicação brasileira:
SC-Como são as condições de produção de cinema em Portugal hoje? As co-produções são uma alternativa `a falta de fomento do cinema?
JS – Neste momento vive-se um momento trágico. Apesar da vitalidade do cinema português com vários realizadores cuja importância é inegável (Pedro Costa, Manoel de Oliveira, Miguel Gomes, João Pedro Rodrigues e a lista continua…), cada vez menos existe um sentido de dever por parte do estado. O dever de apoiar o cinema, de defender a cultura, a produção de ideias e de sentidos. Neste momento discute-se uma nova Lei do Cinema. É um momento crucial. Se essa Lei não for aprovada, ou se for desvirtuada, isso pode significar o fim do cinema português. Em 2012, o Instituto do Cinema anunciou que não tem fundos para apoiar nenhum filme. Será o “ano zero”. Portugal Ano Zero.
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Não. Um filme realizado por um português, com actores e técnicos portugueses, vence prémio da crítica do Festival de Cinema de Berlim. Sessenta por cento do financiamento para a obra de Miguel Gomes foram conseguidos em Portugal, mas os restantes 40% vieram da Alemanha, Brasil e França. E o dinheiro português é de origem privada, enquanto que o que veio dos outros países saiu do Orçamento de Estado desses países. O que significa, citando Miguel Gomes, que acaba por ser “um bocado irónico, em relação ao discurso político que é feito - os 40 por cento restantes da parte brasileira, francesa e alemã saíram dos orçamentos do Estado desses países, cujos contribuintes pagaram, portanto, mais do que os contribuintes portugueses”. Os concursos para financiamento de filmes portugueses estão congelados há meses, sem previsão de regresso. É vergonhoso que o nosso bem cultural com melhor capacidade de exportação esteja a merecer um tratamento destes por parte do Estado português. Um país que trate assim os seus criadores não merece respeito. Não existe.
Adenda: não posso dizer se o prémio é merecido - não vi o filme - mas a julgar pelas suas duas primeiras obras, sobretudo Aquele Querido Mês de Agosto, mal posso esperar para ver.
Ao pessoal que gosta de botar conversa sem saber muito bem do que fala (sim, falo também deste extremista dos mercados):
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Caiu o Carmo e a Trindade. Os céus tremeram. Uma onda de indignação varre os blogues de direita. Deputados vociferam furiosamente no Parlamento contra a infâmia. Comentadores na televisão revoltam-se com a pouca vergonha. Jornalistas apresentadores de serviços noticiosos perdem a compostura e reclamam, olhos faíscando de ódio. É o horror, o horror... um deputado do PS, Pedro Nuno Santos - ainda por cima, um provinciano - atreveu-se a dizer qualquer coisa de esquerda. De esquerda! Há rumores de que em Kyoto ter-se-à sentido um pequeno terramoto. E milhares de peixes-gato deram à costa na Ilha de Páscoa. E que disse ele? Que não devemos agachar-nos perante os nossos credores; que a única arma que iremos ter, daqui a uns tempos, é o não-pagamento da dívida. Extraordinário! Extraordinário também porque vemos a direita ser anti-patriótica, a governar contra os interesses da pátria, e a esquerda - até o PS, imagine-se - a querer defender o país do saque que se prepara. Chegámos a um ponto essencial da nossa História, quando os valores tradicionais se começam a inverter. É agora ou nunca. Daqui a uns meses, será tarde; quando não pudermos mesmo pagar, quando a economia portuguesa estourar, seremos como peixes numa rede acabada de ser puxada do mar, à mercê das gaivotas. Será que nessa altura alguém se vai lembrar das palavras deste deputado, efémero herói da nação?
(É claro que um vice-presidente do PS vir afirmar o que será inevitável é completamente inoportuno. O muro erguido na comunicação social e na opinião pública em favor da austeridade, do respeito e da responsabilidade sofreu uma brecha. A unanimidade dos partidos do arco do poder quebrou-se. Alguém veio dizer que poderá haver alternativa ao desastre para onde estamos a ser conduzidos. E isso fere. É uma ameaça. A violência espoletada é a consequência da fragilidade do fio que une este Governo aos portugueses. As manifestações, os protestos, os apupos vão começando a aparecer. Como disse o Presidente da República, "os portugueses chegaram ao limite dos seus sacrifícios".)
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