A hegemonia e os Horácios
"(...) O governo actual é, para o Horácio, a representação natural e inevitável desta harmonia, bom para os criadores de emprego em particular e para todos por extensão. Acredita sem acreditar, porque a Hegemonia é mesmo assim, como a selecção sexual, as escolhas das mulheres ou a prosa do Doente Imaginário de Molière. Não precisamos de a conhecer para ela existir. Um dia acordamos e damos conta de que a Hegemonia dormiu connosco, falamos a língua dela sem esforço, temos a chave do seu automóvel e o seu cartão de crédito. A língua da Hegemonia é fácil, embora só alguns a falem sem sotaque e tenha algumas regras a que convém obedecer. Por motivos obscuros, não se pode chamar Hegemonia à Hegemonia. A Hegemonia, como o Mafarrico, a madrasta da Bela Adormecida ou o Vanilla Ice, não quer ser chamada pelo nome. A Lingua Quartii Imperii tem destas coisas. Para compensar, tem palavras que vêm à boca como cerejas: capital humano, jovem, empreendedor, dinâmico, coesão, inevitabilidade. (...)"