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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A hegemonia e os Horácios

Miguel Cardina, 05.10.11

"(...) O governo actual é, para o Horácio, a representação natural e inevitável desta harmonia, bom para os criadores de emprego em particular e para todos por extensão. Acredita sem acreditar, porque a Hegemonia é mesmo assim, como a selecção sexual, as escolhas das mulheres ou a prosa do Doente Imaginário de Molière. Não precisamos de a conhecer para ela existir. Um dia acordamos e damos conta de que a Hegemonia dormiu connosco, falamos a língua dela sem esforço, temos a chave do seu automóvel e o seu cartão de crédito. A língua da Hegemonia é fácil, embora só alguns a falem sem sotaque e tenha algumas regras a que convém obedecer. Por motivos obscuros, não se pode chamar Hegemonia à Hegemonia. A Hegemonia, como o Mafarrico, a madrasta da Bela Adormecida ou o Vanilla Ice, não quer ser chamada pelo nome. A Lingua Quartii Imperii tem destas coisas. Para compensar, tem palavras que vêm à boca como cerejas: capital humano, jovem, empreendedor, dinâmico, coesão, inevitabilidade. (...)"

Ler na íntegra o texto do Luís Januário.

O que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira

Pedro Sales, 07.09.11

Voto fútil

Miguel Cardina, 28.05.11

 

O PS é um case study. Faz campanha a comentar as escorregadelas dos seus adversários para não ter de discutir as suas propostas; chama "caloteira" à esquerda que propõe a auditoria e a – mais tarde ou mais cedo, inevitável – renegociação da dívida, acusando-a de não querer "honrar os compromissos" com a banca alemã; acena com o “perigo da direita” como se não tivesse sido o PS o principal promotor do programa de austeridade e desmantelamento do Estado social assumido no acordo com a troika; aliar-se-á ao PSD ou ao CDS sem quaisquer problemas de consciência num futuro governo cujo programa-base demorou dezasseis dias a ser traduzido e disponibilizado em português. O PS está no direito de ser como é. Mas ter a lata de ainda assim apelar ao “voto útil” à esquerda, como o fez António José Seguro, ultrapassa os limites da decência. Ou será que quereria dizer “voto fútil”?

Suspenda-se a democracia

Pedro Sales, 17.11.10

Não serão bem os seis meses pelos quais suspirava Manuela Ferreira Leite, mas a democracia já parece ter sido suspensa, pelo menos até ter sido descerrada a cortina da cimeira da NATO. Com a fronteira franqueada, a mesma polícia que tem passado a última semana em exercícios coreografados para televisão ver, justifica a detenção de dois cidadãos porque, para lá de transportarem um canivete e uma faca de cozinha das grandes, “tinham em seu poder cartazes anarquistas e antipoliciais".
Como, da última vez que dei pela existência de leis e de uma constituição da república, ser anarquista e não gostar da polícia ainda estava longe de ser crime, esta extradição só pode ser encarada como mais um passo na narrativa que tem vindo a ser diligentemente criada por estes dias: as manifestações contra a cimeira são coisa de delinquentes e grupos radicais violentos. Aqui chegados, vale tudo, a começar pela criminalização de uma ideia e a estigmatização de uma posição política e ideológica.

O propósito é claro. Esvaziar a manifestação e marginalizar politicamente todos quantos se oponham à grandiosidade do evento que vai colocar Lisboa de pantanas. Podemos achar que são só três dias, mas a normalização e resignação perante estados de excepção dos direitos e liberdades mais elementares é um risco muito mais perene do que a presença entre nós de Merkel ou Obama. Quem disse que a democracia não pode mesmo ser suspensa?

A oposição da oposição

Pedro Sales, 18.03.09


Mais estranho do que um primeiro-ministro que se parece comportar como se fosse a oposição da oposição, só mesmo um primeiro-ministro que, passando os dias a reclamar contra os maledicentes e os bota-abaixo que não apresentam soluções, passou a última semana a apresentar propostas da oposição que há muito vinha rejeitando. Não só o Provedor do Crédito hoje anunciado não anda muito distante da reciclagem do Mediador do Crédito defendido pelo PP, também a comissão máxima para a transferência de PPR e a redução na prestação do crédito à habitação para as famílias com desempregados, já tinham sido apresentadas há vários meses pelo Bloco de Esquerda. A táctica é sempre a mesma. Malhar nas “irresponsáveis” propostas dos outros partidos, aproveitar todos os palcos para dizer que a oposição não tem nada para dizer ao país e, passados uns meses, apresentar como grande novidade e a derradeira solução contra a crise o que o que até aí era irresponsável e leviano. Não se pode dizer que o truque seja mau. Começa é a dar nas vistas.

Se ninguém nos elogia, encomendamos um relatório tipo credível

Pedro Sales, 27.01.09


Parte da imprensa ocupou o dia de ontem a noticiar os elogios da OCDE à política da ministra da Educação. Alguns blogues chegaram mesmo a criticar a indiferença a que o Público votou o relatório. Uma vergonha. Anda para aí um governo a trabalhar, e a ver o seu trabalho reconhecido internacionalmente pelos principais organismos internacionais, e ainda há quem não dê o devido destaque a um estudo com esta importância. O pior é que, como reparou o blogue profavaliação, não há nenhum relatório da OCDE, mas um estudo encomendado pelo governo a uma equipa internacional que alega seguir as metodologias da OCDE. Já tínhamos as salsichas tipo Frankfurt, e o queijo tipo serra, agora temos os relatórios tipo OCDE.À força de tanto insistir na propaganda, este governo começa a perder a noção do ridículo e o contacto com a realidade. Vale a pena ler os posts de Ramiro Marques, no já referido blogue, para perceber a “fiabilidade” da metodologia “tipo OCDE” que se parece resumir a uma interminável série de reuniões com parceiros institucionais.

Parece que alguns jornalistas também não podem seleccionar as palavras

Pedro Sales, 21.11.08


O Conselho de Redacção da Lusa criticou os "contornos censórios" da direcção de informação da agência noticiosa, indicando que o termo "estagnação" foi retirado da notícia que indicava as previsões de crescimento económico de 0,1% para 2009. De acordo com as declarações do director de informação ao Público, a referência à estagnação económica foi retirada pelos editores por que este termo "tanto pode significar um crescimento como uma diminuição próxima do zero". É tudo uma questão de "objectividade", reclama Luís Miguel Viana. Claro, como é que é mais ninguém pensou nisso? Para a objectividade ser total, só se estranha que não tenham obrigado os jornalistas a referir que, graças ao "crescimento económico fulgurante, Portugal apanha parceiros europeus"...

Contas viciadas

Pedro Sales, 11.11.08


A Associação Nacional de Transportes Colectivos indica que, se o governo não subsidiar o congelamento dos preços, os passes sociais podem subir 8,3%. E como é que chegaram a este valor, três vezes superior à inflação? Reclamando o aumento que estava previsto para Julho (5,83%), e que foi congelado pelo Governo, mais os 2,5% da inflação para 2009. As contas parecem bater certo, até levarmos em consideração que o aumento intercalar que não se chegou a verificar era para compensar a subida dos combustíveis. Comparemos os preços, então. Em Julho do ano passado o crude era comprado a 140 dólares, agora anda pelos 60. Comprar a 60 e cobrar como se valesse 140, ora aí está um bom modelo de negócio.

Contas viciadas

Pedro Sales, 11.11.08


A Associação Nacional de Transportes Colectivos indica que, se o governo não subsidiar o congelamento dos preços, os passes sociais podem subir 8,3%. E como é que chegaram a este valor, três vezes superior à inflação? Reclamando o aumento que estava previsto para Julho (5,83%), e que foi congelado pelo Governo, mais os 2,5% da inflação para 2009. As contas parecem bater certo, até levarmos em consideração que o aumento intercalar que não se chegou a verificar era para compensar a subida dos combustíveis. Comparemos os preços, então. Em Julho do ano passado o crude era comprado a 140 dólares, agora anda pelos 60. Comprar a 60 e cobrar como se valesse 140, ora aí está um bom modelo de negócio.