"2013 será o ano da inversão económica" - Pedro Passos Coelho, em Agosto passado, na festa do Pontal
Sob os auspícios de Sua Excelência o Presidente da República, entramos em 2013 com um Orçamento aprovado, porém provavelmente inconstitucional, depois do pior Natal para o comércio desde há muitos anos, com quebras entre os 25 e os 40%, quebras essas que se vão reflectir na previsível falência de muitos estabelecimentos e na cada vez maior dificuldade em pagar a fornecedores e funcionários para aqueles que ainda vão conseguindo aguentar a crise provocada pelas políticas do Governo PSD/CDS.
Janeiro é o mês mais cruel para milhares de empresas (retalho, grossistas, produtores e fábricas) que dependem do pico de vendas do Natal para equilibrar as suas contas, e quando virmos os números de falências durante este mês, perceberemos porquê. Claro que para os portugueses que trabalham nestas empresas e que estão durante estes dias a receber, por carta, telefonema ou SMS, o aviso de despedimento, Janeiro vai representar uma oportunidade para mudar de vida. É certo que, num país onde os bancos distribuem dividendos à conta dos lucros obtidos com os juros pagos pelo Estado português mas não emprestam dinheiro a empresas, dificilmente se poderá seguir o conselho dos governantes e começar um negócio. O empreendedorismo é uma coisa bonita e uma saída, mas nunca neste momento em Portugal. Sem crédito e com os impostos elevados, apenas os loucos poderão ter vontade de seguir esse caminho. Emigrar é sempre uma opção e, lá está, uma oportunidade. Deixar mulheres e filhos em casa e partir para outras paragens. Para que serve uma licenciatura tirada em Portugal? Para trabalhar num hotel suíço, a mudar a roupa das camas ou a carregar malas, ou num lar de idosos na Grã-Bretanha. Para trabalhar num café alemão ou nas obras, no Canadá. É assim a vida.
Não somos a Grécia - mas como eles temos o défice externo quase equilibrado. É verdade que o ritmo de crescimento das exportações travou a fundo. Mas ainda assim, com as exportações a cair - e, recorde-se, se há mérito no bom desempenho das exportações não é do Governo, mas dos privados, que souberam encontrar mercados para escoar os seus produtos -, celebramos a redução do défice externo. Como a Grécia. E como Portugal de 1943. Sim, não somos a Grécia. Nem o Portugal de há setenta anos. Mas certamente estamos a ficar mais próximos.
Importamos menos porque as famílias deixaram de ter rendimento para consumir. Há quem veja neste facto algo de positivo, mas basta pensar um pouco: não é assim que funciona o capitalismo? Sem consumo, não há sociedade capitalista que possa continuar a existir. Ou quererá o Governo ter um consumo interno semelhante à saudosa Checoslováquia nos anos 70? A balança comercial nesse momento será positiva. Teremos fila para o pão e para o leite, fome generalizada, mas pelo menos exportamos mais do que importamos. Um sonho.
Sua Excelência o Presidente da República acha que a austeridade provocou uma espiral recessiva. Os apoiantes do Governo dizem que não. Havia um ministro de Saddam Hussein que, com o exército americano em Bagdad, garantia que as tropas iraquianas estavam prestes a vencer a guerra. O nosso Governo, o triste bando de deputados que o apoia e que votou a favor de um OE inexequível e criminoso e a cáfila que continua a dizer que os resultados da política governativa são brilhantes e que Gaspar é personalidade do ano, um santo a que apenas a História fará justiça, serão rapidamente uma vírgula na democracia portuguesa - foi isso que Cavaco Silva disse ontem, no seu bipolar discurso de fim de ano. Certo é que a saída desta gente já está a ser preparada. O Dr. relvas fortalece os laços com os seus amigos brasileiros e angolanos, Gaspar tem um lugar assegurado numa qualquer instituição internacional e Passos Coelho sabe que terá sempre os braços de Ângelo Correia à sua espera. Tudo está tem quando acaba bem. 2013 será o ano da inversão económica.