Paul Ryan, Ayn Rand e a hipocrisia intrínseca ao neoliberalismo
The Colbert Report
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Na América, a loucura está a atingir níveis nunca vistos no campo Republicano, após a nomeação de Paul Ryan para candidato a vice-presidente há umas semanas. Ryan é um espécimen especial no espectro político americano: um auto-denominado "libertário" que defende o fim do Obamacare e a descida dos impostos dos mais ricos, assim como a proibição do aborto em qualquer circunstância, incluindo a violação. Claro que o campo da extrema-direita do Tea Party delira, não tanto por causa das posições conservadoras no que diz respeito aos costumes (entrando em absoluta contradição com as ideias libertárias), mas sobretudo porque o corte nos impostos sobre os mais ricos, caso se concretizasse, poderia beneficiar em muito os milionários que financiam essa facção extremista.
Por cá, foi também recebido com êxtase comedido pelos nossos conservadores/liberais/direitistas: José Manuel Fernandes entusiasmou-se e os Insurgentes andam animadíssimos - Ryan vem preencher o vazio emocional deixado pela não nomeação de Ron Paul no ticket Republicano. Ryan é também conhecido pela confessa admiração por Ayn Rand, uma escritora de ficção científica que, nas palavras de Christopher Hitchens, "escreveu romances transcendentalmente maus", e uma suposta filósofa desprezada por toda a gente da filosofia, cuja principal contribuição para o pensamento ocidental foi a defesa do "objectivismo", a doutrina que advoga o egoísmo como máxima virtude do ser humano - como diz Hitchens, uma realidade concreta que dispensaria os inúmeros tomos escritos por Rand sobre ela. Uma das suas frases mais conhecidas é "o altruísmo é o Mal" - no kidding. Em termos político-económicos, defendia o Estado mínimo e a total liberdade económica - também conhecida por selvageria capitalista. A sua oposição a qualquer tipo de apoio social aos mais desfavorecidos redundou num irónico (e trágico) revés no fim da sua vida: doente de cancro, e sem possibilidade de pagar os caríssimos tratamentos, acabou por recorrer a apoios sociais - Medicare e Segurança Social - durante os últimos cinco anos da sua existência, o que só vem provar que a defesa do individualismo e do fim do Estado Social apenas resulta para quem é suficientemente rico para não precisar do Estado Social.
Stephen Colbert nunca teve tanto material para o seu programa, como se pode ver no vídeo. Deus abençoe os hipócritas em geral e os libertários em particular. Sem eles, isto não teria tanta piada.