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Arrastão: Os suspeitos do costume.

A culpa é das pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivem juntas

Sérgio Lavos, 17.05.13

A Maria Teixeira Alves, jornalista do Diário Económico, já encontrou a razão para todas as manifs e todos os "actos de terrorismo de interrupção": a "adopção de crianças por duas pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivam juntas". Deixemo-la; todos têm direito à sua felicidade, sempre defendi isso.

"Os ignóbeis socialistas e bloquistas vão levar amanhã mais uma vez a adopção de crianças por duas pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivam juntas, ao Parlamento. Não se enganem, todas as manifs, todos os Grandolas Vilas Morenas, todos os Galambas e Dragos, todos os actos de terrorismo de interrupção de membros do Governo em actos públicos, têm um único objectivo "dar crianças aos homossexuais"."


Adenda: mais dois posts indignados. Alguém ajude por favor a Maria Teixeira Alves; está claramente a descompensar.

Unglaublich

Sérgio Lavos, 11.11.12

 

O primeiro vídeo da campanha de Marcelo Rebelo de Sousa à presidência foi recusado pelos responsáveis de uma praça de Berlim. O marketeiro monárquico de Deus, o autor de tal feito, promete levar o caso até às últimas consequências e ameaça mostrar a todos os alemães a sua obra. Temendo os danos que o vídeo poderá provocar na má imagem que os alemães já têm dos portugueses, só podemos agradecer a quem recusou. E pensar que foi ainda este ano que um filme português - "Tabu" - ganhou um prémio no festival de cinema de Berlim, cuja sede é na Potsdamer Platz, precisamente o local escolhido para a primeira passagem do vídeo. Miguel Gomes, eat your heart out.

Proencismo

Miguel Cardina, 18.01.12
A UGT acabou de inventar uma figura de estilo: o proencismo. É quando se diz detestar uma coisa que se acaba por aprovar. Por exemplo: "Dona Lourdes, este seu carapau sabe um bocado a podre mas está que é uma maravilha!". Ou então: "oh corpo disforme e repelente que frémitos anseios me impelem a adorar." E ainda dizem que nos faltam talentos.

Independências

Miguel Cardina, 09.10.11

 

António Barreto dá este fim-de-semana uma longa entrevista ao Expresso. O objectivo é o de divulgar os resultados de um estudo encomendado pela organização que preside – a Fundação Francisco Manuel dos Santos – sobre a saúde em Portugal. A tónica é clara: ainda é possível alçar o garrote no SNS. A conclusão, que certamente agradará ao ministerial inventor da Medis, vem acompanhada das habituais tiradas sobre “os ricos que paguem a saúde” (um princípio destruidor do SNS, como já notou o José Maria Castro Caldas) e a possibilidade de activar lógicas de “racionamento” equitativas.

 

Detenho-me, porém, num aspecto da entrevista. A dada a altura o jornalista considera estarmos diante de “um independente, no verdadeiro sentido da palavra”, após enumerar a sua longínqua militância no PCP, o lugar como deputado à Constituinte pelo PS, o papel como ministro da Agricultura, o apoio à AD ou o auxílio à candidatura presidencial de Mário Soares. Situações que o colocaram no centro do político - de onde, aliás, nunca saiu, nem quando mais recentemente se manifestou por “um compromisso nacional”, presidiu à Comissão do Dia de Portugal ou aceitou dirigir o think tank criado por Alexandre Soares dos Santos, uma das mais sólidas fortunas do país.

 

Se ser independente é estar bem no centro e rodeado de elites por todos os lados, então sim, Barreto é independente. Mas dizê-lo assim é menosprezar o impacto da persona política que tem vindo a criar. António Barreto é um dos mais destacados “intelectuais orgânicos” do regime. Não do “regime” de jure, tal como a Constituição o desenha. Porque aí Barreto é subversivo: segundo ele, Portugal necessita de um novo texto constitucional, feito de princípios “universais e permanentes” (como a inscrição do limite do défice) e que sinalize uma regressão efectiva de direitos (a crise como oportunidade para encurtar drasticamente a noção de bem público). Na verdade, é nesta oposição ao documento que Barreto se revela por inteiro enquanto “intelectual orgânico” do regime de facto. Ele é a voz grave que apela à "mudança" e detecta "bloqueios". A voz conservadora que se exaspera com o “facilitismo” criado pelo Magalhães. A voz liberal que espera destronar as perversões igualitárias - oh, realidade... - nem que para isso seja necessário descobrir na Constituição todas as causas dos atavismos nacionais.

 

No fundo, chamá-lo independente raia o insulto. António Barreto é um dos mais eficazes, cultos e porventura desinteressados “intelectuais orgânicos” do regime de facto - esse sistema de encontros, confluências e cumplicidades que articula as elites políticas e económicas. Respect, please.