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Se este Governo, mais do que qualquer outro, se especializou na mentira, na mistificação e na farsa mediática - o repugnante teatro encenado por Passos Coelho e Paulo Portas durante a última semana é demonstração de que o crime compensa -, não o poderia estar a conseguir fazer com êxito se não tivesse a prestimosa ajuda de uma clique de propagandistas a escrever em jornais e blogues, gente sem coluna, que não se importa de mentir com todos os dentes, manipular números e usar dados para servir a política de destruição que nos está a ser imposta. Dois exemplos, durante a última semana:
Helena Matos, na sua última crónica para o Diário Económico, ensaia uma catilinária - a enésima - contra o Ensino Público. Nada de novo, mas lendo com atenção o seu textículo, as marcas do costume saltam à vista. Começa por falar dos exames para o 4.º ano, surpreendendo-se com a "infantilização das crianças" (SIC) levada a cabo pelas associações de pais que protestaram contra o inenarrável exame introduzido por Nuno Crato. A sua opinião sobre a medida (que, de resto, nos equipara apenas a Malta no universo da UE), assim como sobre o termo de responsabilidade que as crianças tiveram de assinar, caracteriza o que Helena Matos é na perfeição, mas não deixa de ser uma opinião, tem direito a ela. Mas quando, para validar o que escreve, fala da qualidade do ensino que existe em Portugal e recorre à mentira, estamos noutro nível. A mesma Helena Matos que, em abnegada missão de denúncia, passa os dias a verificar tendências e subversões na imprensa portuguesa, encontra a raiz dos actuais problemas na reforma do ensino levada a cabo por Marcello Caetano, chegando à conclusão de que o nosso ensino é caro e tem resultados medíocres. Duas mentiras em apenas cinco palavras é obra. Não só a escola pública não é cara - os últimos dados conhecidos, de 2010, antes dos brutais cortes dos últimos dois anos, mostram que a percentagem de verbas para educação estavam abaixo da média da OCDE, tanto no que diz respeito ao gasto médio por aluno como na percentagem do PIB ou na percentagem da despesa pública. E repito, isto antes dos brutais cortes dos últimos três anos, os mais elevados feitos nos países sob resgate. E quanto a resultados? Como é público, Portugal subiu consistentemente, tanto no ranking dos testes PISA, como no recente TIMSS. Portanto, o investimento na educação, apesar de estar abaixo da média da OCDE, consegue resultados que nos colocam bastante acima da média, o que demonstra não só que as políticas prosseguidas têm sido bastante eficazes, como evidencia a competência dos profissionais do ensino, em geral maltratados pela opinião pública, e que conseguem fazer omeletes com poucos ovos. Isto é a realidade. Mas quando é o próprio ministro Crato que a desvaloriza, como poderemos nós esperar que Helena Matos, simples publicista, lhe dê o mínimo de atenção? E tenho a certeza de que não se trata de ignorância - que ainda poderia ter desculpa -, mas de má fé: a Helena Matos interessa passar a mensagem de que o nosso ensino é "caro e medíocre".
Na mesma linha, tivemos também esta semana Marques Mendes, de gráficos em punho, defendendo em prime time os cortes do seu Governo e intoxicando a opinião pública com manipulações grosseiras. A determinada altura, são mostrados dois gráficos. Um que indicava que, entre 1980 e 2010, perdemos 51% dos alunos do 1.º ciclo. E outro que mostrava que, durante o mesmo período, o número de professores tinha crescido 53%. A apresentação destes gráficos visava demonstrar como o número de professores é excessivo para os alunos que temos. O problema? Os gráficos referiam-se a realidades diferentes. O que mostrava a quebra do número de alunos referia-se apenas ao 1.º ciclo e o que representava a subida do número de professores referia-se a todos os níveis de ensino, excepto o Superior. O que se chama a isto? Manipulação, mentir em público para defender uma política. Na verdade, entre 1980 e 2010 houve uma quebra do número de professores do 1.º ciclo, passando de 39926 para 31293.
Esta gente perdeu toda a vergonha. Não se importam de fazer afirmações falsas, facilmente desmontáveis, porque sabem que o palanque onde ensaiam as mentiras tem sempre mais importância do que aquele onde essas mentiras são desmontadas. Marques Mendes fala para centenas de milhar de pessoas; a mentira foi denunciada na página do facebook de Santana Castilho. Este mundo de diferença é que vai permitindo que as maiores atrocidades vão sendo cometidas perante a passividade geral da população. Em muitos casos, a passividade geral é alimentada por ódios a determinadas classes, como os funcionários públicos, os professores ou os maquinistas. A máquina de propaganda é terrivelmente eficaz, não tenhamos dúvidas. Vive da mentira e da manipulação dos governantes, dos políticos que apoiam o Governo e dos opinion makers. Não precisam da realidade para nada, porque fabricam a sua própria realidade paralela, construída em folhas de excel com previsões irrealistas e na encenação permanente de factos e números, quase nunca desmontados por uma imprensa incompetente e colaboracionista. São perigosos, pois são. Têm de ser parados.