Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Arrastão: Os suspeitos do costume.

Relvas relapso

Sérgio Lavos, 04.07.12

Imagem de Telmo Vaz Pereira

 

Relvas diz que referência a 2.º ano de Direito “foi um lapso”. Lapso, duas vezes lapso. Portanto, relapso. Por duas vezes Relvas se lapsou e escreveu que tinha frequentado o 2.º ano de Direito quando apenas tinha feito uma cadeira (que acabou com 10). Um não-assunto, na língua de pau de Passos Coelho. Está tudo bem. Por mim, que se perpetue na cadeira de ministro da propaganda. Ainda há muito por onde arder.

Pim pam pum

Sérgio Lavos, 20.06.12

Poderia socorrer-me da ironia para comentar o desfecho do caso Relvas: "Que surpresa, a ERC ter deliberado em favor do ministro que a tutela..."

 

Ou da indignação pura e dura: "Se o ministro tivesse um pingo de vergonha naquela cara de maçon murcho, já se teria demitido; se o primeiro-ministro tivesse uma réstia de decência no corpo e um estertor de vivacidade na espinha, teria ele mesmo feito o serviço."

 

Ou então da raiva contida: "Uma vez mais, prova-se que em Portugal, quando se fala de políticos, a culpa morre sempre solteira."

 

Ou ainda do queixume miserabilista nacional, tão "tradicional" como os cães de loiça da Joana Vasconcelos: "Um país a ir pelo cano, em que cada caso grave redunda em vazio; o fundo do poço irá sempre ser mais fundo."

 

Ou, em caso de desespero, aceitar a resignação passiva: "Que fazer? Mas alguém estaria à espera de outro resultado?"

 

Mas enfim, tudo corre sem sobressalto. Cívico, humano ou de vida. Vou deitar-me, ler um pouco e tentar adormecer. Amanhã o país vai estar um pouco pior, mas que se lixe; se ninguém se preocupa, deixa andar.

Silêncio

Sérgio Lavos, 04.06.12

E pronto. A pressão de Miguel Relvas funcionou. A jornalista Maria José Oliveira demitiu-se do Público. Tudo perfeitamente transparente, como o primeiro-ministro e o Presidente da República pediram. A jornalista despede-se porque a direcção do jornal tomou o partido do ministro e não só não denunciou logo o telefonema irado do governante como não esclareceu que o facto sobre a vida privada de Maria José Oliveira era uma mentira. Depois de Pedro Rosa Mendes - este duas vezes, primeiro como correspondente da Lusa em Paris, depois enquanto cronista da Antena 1 -, Relvas consegue uma vez mais  que alguém incómodo para si deixe de fazer o seu trabalho de denúncia jornalística. Assim vão as coisas no país. Asfixia democrática? Não brinquem, a democracia vai soltando os seus últimos suspiros, abatida pela vontade de poder dos políticos e dos grandes interesses económicos, pela complacência dos jornais detidos por grandes corporações e pela apatia geral do povo. Preparemos as suas exéquias.

"Correcção e transparência"

Sérgio Lavos, 01.06.12

Olá, olá, daqui fala o amor

Sérgio Lavos, 23.05.12

 

Talvez com medo de que o ministro fizesse uma figura parecida à que fez na comissão de inquérito às secretas, lá teve a maioria parlamentar PSD/CDS de chumbar a sua ida à Assembleia para esclarecer a razão da chantagem, das ameaças e das contradições no caso Público/Relvas. Tudo bem. Simboliza uma escolha: o Governo decide proteger um dos seus pontos mais fracos, arriscando um longo período de fogo lento na opinião pública. Lá terá as suas razões. Mas, e se as razões forem, na realidade, as melhores possíveis? E se na origem de tanto zelo estivesse o papel do próprio primeiro-ministro no problema que dá pelo nome de Silva Carvalho? E se Miguel Relvas estiver a expor o peito às balas para proteger Passos Coelho? No fim de contas, foi o próprio Público que noticiou as reuniões entre o ex-espião e Passos Coelho, há pelo menos um ano*. Talvez até tenha sido Relvas a proporcionar o bonito encontro de espíritos entre Silva Carvalho e Passos Coelho - via loja Mozart - mas a partir do momento em que o produto tóxico tocou as mãos do primeiro-ministro, tudo terá ficado contaminado. E que relação terá este bonito ménage à trois com a notícia do Público que o ministro da propaganda conseguiu abafar com os seus exaltados telefonemas? O amor é verdadeiramente uma coisa bonita - e ainda agora a história começou.

 

*Actualizado com link - obrigado ao comentador Joe Strummer.

A pocilga

Sérgio Lavos, 21.05.12

A perspectiva correcta, pelo Ricardo Alves:

 

O Ministério Público ordenou que fossem apagados os ficheiros armazenados nos telemóveis do ex-diretor do SIED, que incluiam milhares de contactos de figuras públicas e políticas, nomeadamente, aspetos da vida privada e orientação sexual dos visados» (Expresso).

 

«Miguel Relvas ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista (...) de quem tinha recebido nesses dias um conjunto de perguntas relativas a contradições nas declarações que prestara (...) O PÚBLICO perguntou ao ministro Miguel Relvas se apagara as mensagens electrónicas que recebera do antigo director do SIED, Silva Carvalho» (Público)."

É necessário não perder de vista o que está na origem do fedor.

Um homem sério, para além de qualquer dúvida

Sérgio Lavos, 20.05.12

 

Os desenvolvimentos do caso Relvas* trouxeram ao de cima duas tenebrosas figuras dos meandros do aparelho do PSD (via Paulo Pinto). O presidente da distrital do Porto, Virgílio Macedo, veio dizer que os jornalistas têm um "código ético que não lhes permite sofrer pressões" o que, de acordo com o iluminado pensamento deste senhor, prova que as pressões não existiram. Fantástico. Por outro lado, um antes obscuro deputado da bancada PSD, por sinal advogado, Matos Correia, veio afiançar que Relvas não fez as ameaças à jornalista porque conhece bem o ministro. Comovente, esta demonstração de amizade e de confiança, que de resto reforça a intervenção do mesmo deputado na audição do ministro no parlamento, descodificando as atabalhoadas desculpas do governante em relação aos SMS's e aos mails de Silva Carvalho.

 

Entretanto, a linha de defesa dos assessores oficiosos da blogosfera e do comentário televisivo passa pela vitimização do ministro e por alusões a uma guerra interna no Público entre direcção e redacção. A ponto de voltar a ser mencionado o famosos conflito latente entre grupos mediáticos, um dos argumentos subterrâneos do caso Ongoing/secretas. Os rapazes do ministro terão de se esforçar mais, no entanto, porque mesmo que essa guerra exista, ficarão sempre por explicar por que razão as pressões inicialmente foram negadas e depois veladamente admitidas - uma conversa de 30 minutos terá acontecido entre Relvas e a directora do jornal; e por que razão é que, não tendo havido pressões, o ministro terá pedido desculpa à directora. E, mais importante, se o argumento usado é baseado no comunicado da direcção do Público, então teremos de ver as coisas como elas são: o comunicado afirma, para além de qualquer dúvida, que existiram pressões, ameaças e chantagens do ministro. Se a não publicação da peça foi consequência destas pressões, é algo que deverá ser discutido internamente no jornal e comentado cá fora, mas não é o essencial da questão. Tenham ou não resultado as pressões, o que é inadmissível no caso é o facto de um ministro ter telefonado para um jornal com o objectivo de condicionar o funcionamento deste. Se isto não é caso para demissão, o que poderá ser? Tem a palavra o sr. primeiro-ministro.

 

*É importante lembrar que não é o primeiro "caso Relvas": o fim do programa de Pedro Rosa Mendes na Antena 1 já tinha tido mão do nosso querido ministro da propaganda. E antes, houve aquela alegada conversa com o director de programas da RTP no sentido de reservar um bilhete apenas de ida para Mário Crespo, para a delegação de Nova Iorque. Não há acasos.

 

P.S. À direita, e demonstrando-se que há quem tenha coluna vertebral do outro lado das trincheiras, leia-se os textos do Gabriel Silva, do Ricardo Lima e do André Azevedo Alves. E reforce-se a ideia de que há silêncios bastante ruidosos**...

 

**O Delito de Opinião - incluindo a Ana Margarida Craveiro - afinal tem qualquer coisa a dizer sobre o assunto. Ainda bem.

 

Adenda: começo a achar muita piada ao realmente extraordinário trabalho do Jornal de Notícias sobre este tema. O caso começou a ser notícia na passada sexta-feira de manhã. Domingo à tarde, e nem uma notícia, uma que seja - pelo menos, na página on-line. Até o Correio da Manhã já noticiou a coisa. O rapaz - ou rapazes - do Relvas infiltrado na direcção do JN está de parabéns, excelente trabalho. O campeonato de pesca da assessoria continua ao rubro.

Era uma vez a claustrofobia democrática

Sérgio Lavos, 18.05.12

Lembram-se das vestes rasgadas da direita em peso (com especial incidência na blogosfera) e da manifestação a favor da liberdade de expressão em frente ao parlamento? Segunda-feira, o mais tardar, lá estarão novamente a pedir a demissão de Miguel Relvas, o ministro da propaganda que o regime merece. Penso eu e toda a gente de bem. Alguém tem dúvidas?

 

Adenda: na manifestação também estava gente de esquerda. Que, de forma coerente, também já veio denunciar a revelação daquilo que toda a gente já sabia, isto é, que Miguel Relvas continua a "saudável" tradição de telefonar a jornalistas e a directores de jornais a pressionar e a ameaçar para evitar a publicação de notícias negativas. É claro que a coisa é tão grave que a demissão do ministro é o único caminho. Mas o pior é que ninguém acredita que isso aconteça. Qual quê, já chegámos à Finlândia? Agora, eu bem gostaria de ver por exemplo a Ana Margarida Craveiro, a promotora da manifestação de antanho, e o Henrique Raposo a tomarem uma posição semelhante para um caso idêntico - ou mais grave ainda. Mas se calhar vou ter de esperar sentado...

Um exemplo de uma notícia muito ao gosto do cartel dos combustíveis

Sérgio Lavos, 08.05.12

No Expresso. Fazem-se umas contas aos hipotéticos impostos que o Estado poderia ter cobrado quando António Guterres congelou o preço dos combustíveis, sem ter em conta a principal variante neste caso: as quebras de consumo caso não tivesse existido esse congelamento. Nem se chega a perceber bem de onde vem o número. Por outro lado, não se mencionam as vantagens de uma medida desse tipo: a mais evidente é uma poupança nos custos operacionais das empresas, nada despicienda quando estamos a falar de um período de contracção económica. Sem falar no aumento do poder de compra do consumidor individual, também importante no estímulo a uma economia que, já naquele tempo, dependia do sector dos serviços para se manter competitiva. E por fim, fala-se com um representante do cartel, certamente dono e senhor de uma opinião completamente isenta sobre o tema. Mas enfim, interessa a muita gente que as decisões de Hollande que poderiam ser aplicadas em Portugal não sejam vistas com bons olhos pela opinião pública. Daqui em diante, aparecerão muitas notícias como esta.

E em Espanha, passou-se hoje alguma coisa de especial?

Sérgio Lavos, 29.03.12

 

Olhando para as edições on-line dos jornais portugueses e vendo os telejornais e serviços noticiosos nos canais por cabo, no pasa nada. O tratamento dado à Greve Geral no país vizinho é um excelente exemplo da relação dos media com os interesses do poder. Ainda existirá liberdade de imprensa em Portugal?

 

(Quem estiver interessado no que se passou, pode ir aqui. Mas não digam nada ao corta-Relvas, shiuuu...)