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Os desenvolvimentos do caso Relvas* trouxeram ao de cima duas tenebrosas figuras dos meandros do aparelho do PSD (via Paulo Pinto). O presidente da distrital do Porto, Virgílio Macedo, veio dizer que os jornalistas têm um "código ético que não lhes permite sofrer pressões" o que, de acordo com o iluminado pensamento deste senhor, prova que as pressões não existiram. Fantástico. Por outro lado, um antes obscuro deputado da bancada PSD, por sinal advogado, Matos Correia, veio afiançar que Relvas não fez as ameaças à jornalista porque conhece bem o ministro. Comovente, esta demonstração de amizade e de confiança, que de resto reforça a intervenção do mesmo deputado na audição do ministro no parlamento, descodificando as atabalhoadas desculpas do governante em relação aos SMS's e aos mails de Silva Carvalho.
Entretanto, a linha de defesa dos assessores oficiosos da blogosfera e do comentário televisivo passa pela vitimização do ministro e por alusões a uma guerra interna no Público entre direcção e redacção. A ponto de voltar a ser mencionado o famosos conflito latente entre grupos mediáticos, um dos argumentos subterrâneos do caso Ongoing/secretas. Os rapazes do ministro terão de se esforçar mais, no entanto, porque mesmo que essa guerra exista, ficarão sempre por explicar por que razão as pressões inicialmente foram negadas e depois veladamente admitidas - uma conversa de 30 minutos terá acontecido entre Relvas e a directora do jornal; e por que razão é que, não tendo havido pressões, o ministro terá pedido desculpa à directora. E, mais importante, se o argumento usado é baseado no comunicado da direcção do Público, então teremos de ver as coisas como elas são: o comunicado afirma, para além de qualquer dúvida, que existiram pressões, ameaças e chantagens do ministro. Se a não publicação da peça foi consequência destas pressões, é algo que deverá ser discutido internamente no jornal e comentado cá fora, mas não é o essencial da questão. Tenham ou não resultado as pressões, o que é inadmissível no caso é o facto de um ministro ter telefonado para um jornal com o objectivo de condicionar o funcionamento deste. Se isto não é caso para demissão, o que poderá ser? Tem a palavra o sr. primeiro-ministro.
*É importante lembrar que não é o primeiro "caso Relvas": o fim do programa de Pedro Rosa Mendes na Antena 1 já tinha tido mão do nosso querido ministro da propaganda. E antes, houve aquela alegada conversa com o director de programas da RTP no sentido de reservar um bilhete apenas de ida para Mário Crespo, para a delegação de Nova Iorque. Não há acasos.
P.S. À direita, e demonstrando-se que há quem tenha coluna vertebral do outro lado das trincheiras, leia-se os textos do Gabriel Silva, do Ricardo Lima e do André Azevedo Alves. E reforce-se a ideia de que há silêncios bastante ruidosos**...
**O Delito de Opinião - incluindo a Ana Margarida Craveiro - afinal tem qualquer coisa a dizer sobre o assunto. Ainda bem.
Adenda: começo a achar muita piada ao realmente extraordinário trabalho do Jornal de Notícias sobre este tema. O caso começou a ser notícia na passada sexta-feira de manhã. Domingo à tarde, e nem uma notícia, uma que seja - pelo menos, na página on-line. Até o Correio da Manhã já noticiou a coisa. O rapaz - ou rapazes - do Relvas infiltrado na direcção do JN está de parabéns, excelente trabalho. O campeonato de pesca da assessoria continua ao rubro.