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Arrastão: Os suspeitos do costume.

O homem que conduziu Portugal a dois resgates consecutivos

Sérgio Lavos, 28.09.13

 

Neste santo dia de reflexão, o Público decidiu pintar a negro a sua primeira página e chamar finalmente os bois pelo nome, trazer para primeiro plano aquilo que toda a gente já sabe há alguns meses: Portugal vai precisar de um segundo resgate

 

Não foi por falta de aviso. Economistas desalinhados com o discurso único e a esquerda do BE e do PCP têm vindo a afirmar, desde há dois anos, que a política de austeridade iria conduzir inevitavelmente o país a um ponto em que a dívida se tornaria impagável. Como Portugal apenas reconquistaria a confiança dos investidores se conseguisse o crescimento económico que permitiria a sustentabilidade da dívida pública, chegámos a este ponto, de recessão imparável, com o PIB a encolher e com o país a produzir cada vez menos riqueza para pagar o que foi pedindo emprestado. Seria mais do que expectável.

 

Há muitos culpados desta situação, mas não iludamos o papel do principal protagonista da desgraça do nosso país: Pedro Passos Coelho, o líder político que vai ficar na História como o homem que conduziu Portugal a dois resgates consecutivos. O primeiro por sede de poder, o segundo por incompetência e cegueira ideológica. 

 

Os tempos acelerados que vivemos levam a que a maior parte das pessoas esqueça o que aconteceu nos últimos dois anos e meio, mas há registos escritos que mostram qual o papel de Passos Coelho em todo o processo de ruína do país. Como relata David Dinis no seu livro Resgatados, o actual primeiro-ministro, que apoiara os três planos de estabilidade e crescimento apresentados pelo Governo de Sócrates, viu-se confrontado pelo PSD de uma forma clara. É conhecida a ameaça feita por Marco António Costa - actual porta-voz oficioso do partido - a Passos Coelho: "ou há eleições no país, ou há eleições no partido". Colocado entre a espada e a parede por causa do apoio aos PEC's de Sócrates, Passos Coelho não hesitou. Contrariando as indicações dadas em reunião com Sócrates de que iria aprovar mais um PEC, o PSD acabou por chumbar no parlamento esse plano (em aliança com o BE e a CDU, que votaram contra o PEC como tinham feito aos PEC's anteriores), levando à demissão de Sócrates e à consequente instabilidade que provocou uma subida dos juros até a um ponto em que se tornou inevitável pedir o resgate. Como Sócrates não se cansa de repetir, esse PEC IV tinha o apoio de Merkel e do BCE, e seria uma espécie de programa de austeridade atenuada - se resultaria ou não, nunca saberemos - que evitaria o resgate e a entrada da troika em Portugal, à semelhança do que aconteceu em Espanha (e, até certo ponto, em Itália) - recordemos que Mariano Rajoy resistiu a um resgate oferecendo em troca medidas de austeridade que nem de perto nem de longe se aproximam das que têm sido implementadas em Portugal nos últimos dois anos. 

 

Depois da traição a Sócrates, Passos Coelho embarcou numa campanha eleitoral durante a qual prometeu fazer o contrário do que acabaria por ser feito quando chegou ao Governo. E a mentira foi deliberada: Passos Coelho prometeu não cortar subsídios a funcionários públicos, pensões, despedir pessoas, sabendo que a maior parte dessas medidas estavam inscritas no memorando da troika. Disse que bastaria atacar as "gorduras do estado" para reequilibrar as contas públicas. Todos sabemos agora a que gorduras ele se referia: os reformados, os pensionistas, os funcionários públicos com menos qualificações. 

 

Dois anos e meio depois, quase todas os objectivos que estavam no memorando não foram atingidos. As metas do défice têm vindo a ser sucessivamente alteradas pela troika, devido à incapacidade do Governo em cumpri-las; a dívida pública, que de acordo com o programa deveria estar no final deste ano nos 118%, já atingiu os 130%; o desemprego, que deveria estar nos 12%, está perto dos 17%; e até as exportações têm um crescimento menor do que o previsto, apesar da propaganda governamental querer convencer-nos do contrário. A data simbólica do regresso aos mercados, repetida pelo Governo, foi mais um fracasso: os juros ultrapassam o limiar aceitável, 7%, e as agências de rating ameaçam com descida da notação do país - já ninguém acredita que Portugal não precise de um segundo resgate. Irónica é também a principal razão que os investidores encontram para este fracasso: o próprio Governo. Não esqueçamos que Cavaco decidiu manter o executivo em funções depois da saída irrevogável de Portas em Julho passado em nome da estabilidade e de um hipotético regresso aos mercados. Na realidade, estes acham que o Governo deixou de o ser em Julho passado, com a saída de Gaspar e a demissão irrevogável de Portas. Cavaco Silva, o outro culpado da ruína portuguesa, não quis deixar cair um Governo morto, e a cada dia que passa a podridão é mais visível. Já ninguém - nem os portugueses, nem os mercados - acredita na competência e na credibilidade das pessoas que nos governam. 

 

Caminhamos então para o segundo resgate pela mão de Pedro Passos Coelho. Depois de ter provocado o primeiro, decidiu manter-se como chefe do Governo contra a toda a razão e o bom senso - "não me demito" -, recusando-se a aceitar o fracasso das suas políticas. Passos Coelho, o arrivista deslumbrado, é o cego que conduz Portugal por um mar repleto de escolhos. Com um político deste calibre, o desastre seria previsível. O homem que conduziu Portugal a dois resgates consecutivos - eis o que ficará para a História. 

O Berlusconi que merecemos

Sérgio Lavos, 07.09.13

 

As intervenções de Pedro Passos Coelho nos últimos tempos entraram numa tal deriva alucinadamente populista que qualquer pessoa de bem deverá começará a recear pela saúde mental no nosso primeiro.

 

Havia sinais anteriores, mas tudo terá começado a descambar naquela fatídica noite em que o irrevogável, completamente de surpresa - vamos esquecer que Coelho nunca o chegou a avisar da nomeação de Miss Swaps para o lugar de ministra das Finanças -, apresentou a demissão do cargo de ministro. Sabemos agora que o irrevogável apenas pretendia um lugar de maior destaque para pôr em prática as suas políticas de recuperação económica baseadas na indústria cervejeira - com o decisivo contributo de Pires de Lima, claro -, mas naquele momento acreditemos que Coelho terá sentido o mundo fugir-lhe debaixo dos pés. Ou, mais prosaicamente, teve a clara visão do pote a ser-lhe retirado do colo, como se retira um bombom a uma criança. Nunca saberemos com certeza, mas a verdade é que algum nervo mais sensível da alma do leitor de Sartre deverá ter sido tangido ao ler a agora famosa missiva de partida do irrevogável. Receamos mesmo que algo se terá irremediavelmente quebrado, e o Coelho ter-se-á sentido de regresso aos tempos em que perdeu a inocência com uma qualquer mulher oferecida por mão caridosa. Daí para a frente, Coelho entrava na idade adulta, aquilo que vulgarmente se designa "novo ciclo".

 

Vejamos: todos os discursos públicos desde aí foram feitos de improviso. Falando para plateias hesitantes entre a adoração ao querido líder e a perplexidade perante os delírios ouvidos, o primeiro tem firmado um estilo que reconhecemos nos melhores momentos do maluquinho do Rossio. Entre o queixume, em tempos execrado - "não sejam piegas" -, a ameaça - "se não nos deixarem brincar, vem aí o segundo resgate, chuvas de gafanhotos e o dilúvio" - e a alucinação pura - ao dizer que seria louco o político que quisesse o empobrecimento da população, coisa que ele logo no início do programa de ajustamento disse que seria inevitável -, Coelho tem oscilado entre o relambório babado propagandístico e a viagem mental por territórios nunca antes desbravados.

 

O mais recente sinal de preocupação para todos nós foi a acusação feita ao PS de que a promessa de descida de impostos é, e cito, uma "esperteza saloia". Não é apenas a linguagem utilizada, ao nível de uma criança de 10 anos ou de um indigente mental; é tudo o que a afirmação acarreta. O homem que foi eleito com dezenas de promessas que, mal conseguiu chegar ao pote, esqueceu sem dó nem piedade, o homem que não só mentiu ao prometer coisas que, dada a situação financeira do país, nunca poderia cumprir, como mentiu sabendo muito bem qual a verdadeira dimensão da despesa pública - as "gorduras do estado" que seriam suficientes para sanear as contas públicas -, voltou a mentir já depois de eleito sobre as mentiras que disse antes, e persiste na mentira por exemplo ao ameaçar com um resgate (por causa do chumbo do Tribunal Constitucional) que está a ser negociado pelo menos desde o início do ano (e no mesmo discurso Coelho diz também que o Governo está a preparar o país para não ter um resgate de 15 anos em 15 anos), esse homem sente-se indignado com o pedido feito pelo PS para baixar impostos. Isto quando supostamente há uma proposta para baixar o IRC, feita por uma comissão nomeada por ele próprio, o primeiro-ministro, e a constante promessa, ensaiada por ele e por vários ministros, de uma baixa de impostos "assim que possível".

 

É claro que isto seria cómico, se não fosse profundamente trágico. Pedro Passos Coelho é o maior mistificador, o tipo com mais lata a já ter passado pela cadeira de primeiro-ministro do nosso país. Diz tudo e o seu contrário, sem hesitações, acusa os outros de fazerem aquilo que sempre fez, aquilo que o ajudou a chegar a primeiro-ministro - a demagogia e a mentira - e prossegue imparável sem contraditório, em rédea solta. Não é um caso de insanidade mental. É um caso de absoluta falta de vergonha, o mais próximo que Portugal pode ter de um Berlusconi, mas sem a classe de bufão de ópera do italiano (relembremos que Coelho nem para musical de la Féria serve). Estamos todos de parabéns. 

O mesmo trampolineiro de sempre

Sérgio Lavos, 27.08.13

Pedro Passos Coelho sobre os incêndios num ano especialmente gravoso, sobretudo pelas quatro mortes, mas também pelo invulgar número de ocorrências:

 

"Não me parece que exista responsabilidade directa a imputar a alguém."

 

Pode até ter razão - apesar do persistente problema  das matas por limpar antes da época de incêndios e da sucessivas queixas dos bombeiros sobre o subfinanciamento das corporações e da protecção civil -, mas a verdade é que, quando o PSD e o CDS eram oposição, nunca se abstiveram de criticar o Governo de Sócrates. Se juntarmos a isto a ausência do primeiro-ministro do terreno - mas com certeza que ir a banhos na Manta Rota será uma prioridade maior do que visitar os quartéis dos bombeiros ou até fazer uma declaração sobre os mortos e os feridos - e vemos de que fibra este primeiro-ministro é feito. Ele e Cavaco Silva estão bem um para o outro. 

Discurso do filho da puta

Sérgio Lavos, 04.05.13
O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;
mas não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho da puta.
no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho da puta.
de resto,
os filhos da puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho da puta.
o pequeno
filho da puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho da puta.
no entanto,
o pequeno filho da puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho da puta.
todos os grandes
filhos da puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
dentro do
pequeno filho da puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
o pequeno filho da puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho da puta.

é o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
de resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta.

II

o grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,
e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.

no entanto,
há filhos da puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho da puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.
o grande filho da puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho da puta.
por isso
o grande filho da puta
tem orgulho em ser
o grande filho da puta.
todos
os pequenos filhos da puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
dentro do
grande filho da puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos da puta,
diz o
grande filho da puta.
tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos da puta,
diz
o grande filho da puta.
o grande filho da puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho da puta.

é o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
de resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta.

 

 

Alberto Pimenta

Texto de apoio do Pedro e da Laura à manifestação de amanhã

Sérgio Lavos, 01.03.13

Portugueses e Portuguesas,O direito à manifestação e à expressão do descontentamento político está consagrado na constituição e a participação cívica é um dos elementos que mais vigor poderá dar à nossa democracia. Os tempos que vivemos são difíceis e desde o lugar de responsabilidade que ocupo tenho em primeira mão consciência das dificuldades que vivem muitos portugueses e do desespero que sentem. No entanto para que a democracia não saia perturbada pelo excesso de entusiasmo de um par de radicais que não se reveem no programa de governo acho necessário ressalvar os seguintes pontos:-A manifestação de 2 de Março deverá ser ordeira, pacífica, reservada e ajuizada. A tranquilidade dos transeuntes e dos habitantes deve ser tida em conta, será portanto de evitar a utilização de elementos ruidosos ou que causem demasiado aparato.-As palavras de ordem e cartazes deverão obedecer às regras elementares de bom gosto e de decoro, não ofendendo os representantes do povo (ou as suas mães) nem as instituições do estado.-A manifestação deverá restringir-se do ponto A ao ponto B, entre a hora X e a hora Y. Terminada todos os manifestantes deverão ir para casa ver a reportagem na televisão e esperar quietinhos por 2015.-Todas as ordens dadas e sugeridos pelos elementos que se afirmem os directores da manifestação devem ser seguidas escrupulosamente. Se eles disserem senta os portugueses deverão sentar-se, se disserem corre os portugueses deverão correr.-Toda e qualquer iniciativa que vise transformar uma legitima expressão de descontentamento em algo mais, que procure desconstruir as desiguais relações de poder ou que procure constituir-se enquanto momento político deverá ser imediatamente censurada. A manifestação serve única e exclusivamente para que eu e os membros do meu governo possamos ouvir a vossa voz, e não para que, deus nos livre, utilizeis as vossas mãos.-Para assegurar a segurança de todos os manifestantes estará presente o corpo de intervenção da PSP em números inacreditáveis. Pedimos a todos os manifestantes que não hesitem em entregar à polícia todos os profissionais da desordem que ousem desrespeitar estes pontos anteriormente referidos. A PSP estará autorizada a desrespeitar todos os seus regulamentos internos, mas isso porque está do nosso lado. Acaso vejam um deles com um megafone corram, corram muito, corram bem.Desejo a todos um saudável exercício dos vossos direitos constitucionais,Pedro e Laura.

 
"Portugueses e Portuguesas,

O direito à manifestação e à expressão do descontentamento político está consagrado na constituição e a participação cívica é um dos... elementos que mais vigor poderá dar à nossa democracia. Os tempos que vivemos são difíceis e desde o lugar de responsabilidade que ocupo tenho em primeira mão consciência das dificuldades que vivem muitos portugueses e do desespero que sentem. No entanto para que a democracia não saia perturbada pelo excesso de entusiasmo de um par de radicais que não se reveem no programa de governo acho necessário ressalvar os seguintes pontos:

- A manifestação de 2 de Março deverá ser ordeira, pacífica, reservada e ajuizada. A tranquilidade dos transeuntes e dos habitantes deve ser tida em conta, será portanto de evitar a utilização de elementos ruidosos ou que causem demasiado aparato.

- As palavras de ordem e cartazes deverão obedecer às regras elementares de bom gosto e de decoro, não ofendendo os representantes do povo (ou as suas mães) nem as instituições do estado.

- A manifestação deverá restringir-se do ponto A ao ponto B, entre a hora X e a hora Y. Terminada todos os manifestantes deverão ir para casa ver a reportagem na televisão e esperar quietinhos por 2015.

- Todas as ordens dadas e sugeridos pelos elementos que se afirmem os directores da manifestação devem ser seguidas escrupulosamente. Se eles disserem senta os portugueses deverão sentar-se, se disserem corre os portugueses deverão correr.

- Toda e qualquer iniciativa que vise transformar uma legitima expressão de descontentamento em algo mais, que procure desconstruir as desiguais relações de poder ou que procure constituir-se enquanto momento político deverá ser imediatamente censurada. A manifestação serve única e exclusivamente para que eu e os membros do meu governo possamos ouvir a vossa voz, e não para que, deus nos livre, utilizeis as vossas mãos.

- Para assegurar a segurança de todos os manifestantes estará presente o corpo de intervenção da PSP em números inacreditáveis. Pedimos a todos os manifestantes que não hesitem em entregar à polícia todos os profissionais da desordem que ousem desrespeitar estes pontos anteriormente referidos. A PSP estará autorizada a desrespeitar todos os seus regulamentos internos, mas isso porque está do nosso lado. Acaso vejam um deles com um megafone corram, corram muito, corram bem.


Desejo a todos um saudável exercício dos vossos direitos constitucionais,

Pedro e Laura."
(Via Facebook.)

O traste

Sérgio Lavos, 27.02.13

 

O exercício já foi feito por mais pessoas, mas nunca é de mais recordar alguns dos tuítes com que Pedro Passos Coelho nos brindou antes de ir ao pote, um festival de encenação e má fé nunca antes visto em Portugal:

 

Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português. - 2 de Maio de 2011.


Temos de apostar na economia, mas na economia que cria emprego, não na economia que cria rendas aos amigos do poder. - 2 de Maio de 2011.


Impostos e salários foram sacrificados para pagar juros demasiado altos. Quem assim procedeu não pensou no país mas em salvar a própria pele. - 2 de Maio de 2011.


Faremos diferente, trazendo para cima da mesa as contas verdadeiras e pondo o Estado a fazer os sacrifícios que andou a impor aos cidadãos. - 2 de Maio de 2011.


A médio e longo prazo, a consolidação orçamental não é suficiente: o crescimento económico é a única solução para reduzir a dívida. - 3 de Maio de 2011.


Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa. - 10 de Maio de 2011.


Não vamos nomear os amigos. Nomearemos com transparência aqueles que por mérito e competência merecerem ser nomeados. - 25 de Maio de 2011.


Ficámos ontem a saber que há concursos públicos internacionais forjados: o Governo já sabe quem ganha antes de os lançar. - 27 de Maio de 2011.


Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. - 1 de Junho de 2011.


Não quero ser eleito para dar emprego aos amigos. Quero libertar o Estado e a sociedade civil dos poderes partidários. - 2 de Junho de 2011.


Prefiro ser criticado por alguma medida mais difícil que defendo do que ser acusado de ludibriar as pessoas. - 16 de Maio de 2011.

Foi você que pediu um primeiro-ministro mentiroso, aldrabão, ignorante, cínico e farsante? Ou quer repudiar e derrubar o maior traste que já passou pela cadeira de primeiro-ministro de Portugal? Informações aqui.

Selecção natural

Sérgio Lavos, 19.02.13

O Pedro Picoito, que é de direita e com quem muitas vezes não concordo, tem toda a razão quando escreve neste post:

"É uma cruel ironia. Na mesma semana em que o Primeiro-Ministro descreve a economia portuguesa com uma das suas fórmulas trôpegas (“a selecção natural das empresas que podem melhor sobreviver está feita”), ficamos a saber, pelo Público, que nove empresários da restauração se suicidaram nos últimos três meses e 11 mil empresas do sector foram à falência. José Manuel Esteves, secretário-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, acrescenta que se trata muitas vezes de “microempresas de cariz familiar, e por isso as consequências são ainda mais gravosas”.

O Governo, entendamo-nos, não pode ser directamente responsabilizado por estas mortes. Mas a frieza dos números mostra a realidade, na vida das pessoas, do “processo de ajustamento” que Passos quer fazer passar por natural, inevitável e certo como uma lei da ciência. Vivemos acima das nossas posses? Pois agora morremos abaixo das nossas posses. As espécies, quando não se adaptam, extinguem-se, lá dizia o Sartre.

Se o Primeiro-Ministro tivesse um bocadinho de mundo fora das jotas e dos negócios de favor, saberia que há metáforas insultuosas. Sobretudo quando vêm de um parasita que sempre fugiu à “selecção natural” graças a hospedeiros bem colocados. Mas não tem. A selecção natural dá-se por pequenos passos."

 

Mentiroso compulsivo (2)

Sérgio Lavos, 17.01.13

"Ninguém aconselhou os portugueses a emigrarem" - Pedro Passos Coelho, 17 de Janeiro de 2013.

 

Governo incentiva jovens desempregados a emigrar. - Notícia de 31 de Outubro de 2011.

 

Passos Coelho sugere a emigração a professores desempregados. - Notícia de 18 de Dezembro de 2011.

 

O mentiroso patológico caracteriza-se por mentir de forma tão deliberada e comum que chega acreditar nas mentiras que inventa. Para além disso, ofende-se quando é apanhado a mentir. E ainda há quem fale do outro que anda por Paris...

 

(Via Esquerda Republicana.)

Mentiroso compulsivo e imperdoavelmente ignorante

Sérgio Lavos, 02.12.12

"Na entrevista de quarta-feira à TVI, Passos Coelho considerou que a Constituição permite mais alterações às funções do Estado no sector da educação do que no da saúde, acrescentando: "Isso dá-nos aqui alguma margem de liberdade, na área da educação, para poder ter um sistema de financiamento mais repartido entre os cidadãos e a parte fiscal directa que é assegurada pelo Estado"." 

O sublinhado mostra o que o primeiro-ministro disse na entrevista. Como entretanto meio país veio denunciar a inconstitucionalidade do pagamento de propinas no ensino obrigatório, tendo o ministro da tutela afirmado mesmo que essa medida não poderia sequer ser equacionada, Passos Coelho corrige o tiro, afirmando que não disse aquilo que efectivamente disse. Quando falou em sistema de financiamento repartido entre cidadãos e o Estado, estaria a referir-se a quê? Mas Coelho diz mais, caindo na asneira e mostrando que nem sequer sabe do que fala:

"no ensino secundário e no ensino superior há uma taxa de esforço financeiro directo que aqueles que estão a frequentar o ensino superior e, até aqui, o ensino secundário, faziam, a par do esforço dos impostos".

A confusão que vai cabeça do PM é inacreditável. Ele acha mesmo que o ensino secundário é financiado directamente pelos utilizadores (vulgo, propinas), como o é o ensino superior? Isto é a sério? O senhor primeiro-ministro não sabe que o ensino secundário não paga propinas? E por que é que ele disse "até aqui"? Vai mudar alguma coisa? Mistério... mas diz ainda mais:

"O ensino secundário praticamente desapareceu, na medida em que o ensino obrigatório foi estendido até ao 12.º ano. Uma vez estendido até ao 12.º ano, significa que as regras serão as mesmas em todos os níveis do ensino obrigatório"

O ensino secundário "praticamente desapareceu"??? A sério? Ele disse isto? E os jornalistas não o confrotaram com o ridículo de tal afirmação? Qual terá sido o nível de ensino que substituiu o secundário desde que o ensino obrigatório foi estendido até ao 12.º ano? Ninguém sabe. O que depreendemos das palavras do senhor primeiro-ministro é que ele não sabia minimamente do que estava a falar, tanto na entrevista à TVI como nas declarações de hoje. O que não é novidade, diga-se. Impreparação, desconhecimento, arrivismo voluntarioso, eis o que define o primeiro-ministro. Dir-se-á mesmo: alienação. Quem não sabe como se organiza o ensino em Portugal está completamente a leste de tudo. Este senhor existe mesmo? E governa-nos?