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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Querem manifestações politicamente motivadas que lutem por causas justas? É só seguir o exemplo de Espanha.

Sérgio Lavos, 18.08.11

 

Num país que está a atravessar uma crise económica, receber a delegação papal gastando dinheiro dos contribuintes é uma afronta. As organizações laicas - que incluem católicos progressistas, ateus e agnósticos - protestam contra a indecência de não haver ainda uma verdadeira separação entre (uma) religião e o Estado na monárquica Espanha. Por cá, quando Bento XVI visitou o país, os protestos foram muito mais discretos. Infelizmente.

 

*Sem surpresa, a "liberal" Helena Matos insurge-se contra um grupo de pessoas que luta por um dos principais fundamentos do liberalismo: precisamente a laicidade. Isto no mesmo blogue em que, post sim, post sim, se defende o mínimo Estado possível. Mas já sabemos: se o dinheiro dos contribuintes vai para a saúde ou a educação, é um roubo; se é desviado para financiar um credo religioso, será o quê?

Ainda se fosse um cartoon...

Pedro Sales, 17.09.08
Na mesma semana em que se soube que uma comediante italiana poderá vir a ter que responder em tribunal por ter feito uma piada com o Papa Bento XVI, atitude que lhe pode valer uma pena de prisão até 5 anos, tornou-se público que a polícia alemã está a assegurar a protecção a um padre protestante que tem recebido ameaças à sua vida desde que escreveu uma canção criticando Bento XVI. Ao contrário dos célebres cartoons com Maomé, e será certamente por distracção, ambos os casos não têm merecido a indignação dos exaltados de serviço quando a intolerância religiosa e ataques à liberdade de expressão vêm de outras latitudes.

Não esquecer o crime

Daniel Oliveira, 21.04.08

Mais umas achegas para Wilders

Daniel Oliveira, 30.03.08
Tenho aqui mais algumas citações do livro religioso que Geert Wilders podia ter acrescentado no seu filme, porque retiradas dos contextos histórico e literário e juntando-se à leitura o preconceito teriam um forte efeito:

«Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o senhor teu Deus, se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do senhor teu Deus, transgredindo a sua aliança (...) Então tirarás o homem ou a mulher que fez este malefício, às tuas portas, e apedrejarás o tal homem ou mulher, até que morra.»
«E aquele que blasfemar o nome do senhor, certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do senhor, será morto.»
«Todo o que for achado será transpassado; e todo o que se unir a ele cairá à espada. E suas crianças serão despedaçadas perante os seus olhos; as suas casas serão saqueadas, e as suas mulheres violadas.»
«…matarás desde o homem até à mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois às ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos»
«Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada»
«Os homossexuais devem ser executados»
«As mulheres não devem usar roupa masculina - é uma abominação aos olhos do Senhor.»
«As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E se querem ser instruídas sobre algum ponto, interroguem em casa os seus maridos, porque é vergonhoso para uma mulher o falar na igreja»
«A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.»

Um pormenor que os crentes terão reparado: as frases não são retiradas de textos sagrados islâmicos. Se alguém resolvesse usar estas citações para descrever o Cristianismo o que lhe diriam? Que era um débil mental. No entanto não é o que se diz quando alguém escolhe este método idiota para retratar o Islão. Pode discutir-se as sociedades muçulmanas, que são muito diferentes entre si. Mas deixar que o debate desça a este ponto de indigência intelectual não é apenas um insulto aos muçulmanos. É um insulto à inteligência.

A nossa religião

Daniel Oliveira, 28.03.08

Qual foi a primeira reacção judicial contra o filme de Geert Wilders? De muçulmanos? Não. Da família do decapitado que ele pornograficamente exibiu? Também não. Foi de Kurt Westergaard, o autor do cartoon que abre o próprio vídeo. No Ocidente a liberdade de expressão é importante? Sim. Mas acima dela está um outro valor, esse sim absolutamente sagrado: o direito de propriedade. Não faço discussão jurídica. Apenas não deixo de achar irónico. Nós também temos os nossos tabus religiosos. (Informação via BiToque)

Chafurdar no medo

Daniel Oliveira, 27.03.08



Confesso que hesitei se postava ou não este vídeo. Em princípio, não publico aqui propaganda de extrema-direita. Defendo a liberdade de expressão que o senhor Geert Wilders, um deputado da extrema-direita holandesa (sobre o qual já tinha escrito no Expresso), não aceita para os outros (propondo que o Corão seja proibido na Holanda). Defendo que o homem tem direito à palavra. Não obrigatoriamente no meu blogue, claro. Mas ver este vídeo pode ser muito elucidativo do que é e a quem serve a islamofobia. Posto aqui este inenarrável vídeo de propaganda racista, onde se misturam imagens chocantes, frases soltas e declarações incendiárias não identificadas. No vídeo quase amador, mas que foi divulgado hoje e já corre o mundo, o deputado não hesita em mostrar a imagem de um decapitado, que as televisões, por respeito à sua família, não exibiram.

Quem daria crédito a frases assim retiradas da Bíblia ou da Tora? E não faltaria por onde pegar em textos que lidos literalmente e sem contexto histórico só podem dar disparate. Ninguém decente. Mas a ignorância é sempre amiga do racismo. E a táctica do racismo é sempre a mesma: colar a todo um povo e a toda uma cultura os crimes de alguns para pôr o medo a render poder.

Geert Wilders não quer saber nada sobre o Islão ou sobre o Mundo muçulmano. Wilders nem sequer nos quer dar uma imagem do fundamentalismo islâmico. Geert Wilders quer nos dizer que o Islão é, ele mesmo, criminoso. Quer chafurdar no medo e assim ganhar poder. Exactamente como os nazis queriam explicar ao povo que os judeus eram culpados de tudo o que de mal lhes acontecia.

Nada distingue o senhor Wilders dos pais da criança que, no vídeo, repete que os judeus são uns porcos. São feitos da mesma massa estúpida e ignorante que nos levou, ao longo da história, para todas as tragédias. Uma diferença: Wilders é deputado e sabe muito bem porque faz o que faz e porque diz o que diz.

O que aqui vemos não é assim tão diferente da propaganda que o anti-semitismo espalhou e espalha sobre os judeus e a sua história. Nem da propaganda que radicais muçulmanos (mesmo os que não optam pelo terrosimo) espalham sobre os judeus e os ocidentais. Geert Wilders faz parte dessa velha família de incendiários, que na sede de poder espalha o medo do outro e ódio pela diferença. Este "documentário" é apenas um retrato do senhor Wilders, um dos mais populares políticos holandeses.

Mas aqui fica. Porque vivemos em sociedades livres e não daremos a este senhor o gosto da vitimização. Não será silenciado. Ao oriente diremos: sabemos que a maior parte dos muçulmanos não são isto. Saibam que a maior parte dos europeus não são Geert Wilders.

Como ateu e laico (os únicos que foram sempre perseguidos por todos os fanáticos de todas religiões), não respeito nenhuma religião mais do que outra. Apenas sei de uma coisa: aquele que me disser que há um povo, uma religião e uma cultura criminosa por natureza será seguramente o que não hesitará em matar em nome da sua autoproclamada superioridade cultural. Sempre foi assim, sempre assim será. O que assusta? É que também por cá esta gente começa a ser levada a sério. Olhem para a história e vejam onde isto acaba.

Que ninguém se engane: estes homens que usam a defesa dos direitos de umas minorias para expulsar da Europa outras minorias serão os primeiros a esmagar qualquer minoria se acharem que isso lhes dará popularidade e poder. O princípio é sempre o mesmo. Só mudam as personagens.

PS: o facto de ter postado este vídeo não abre a porta da caixa de comentários a insultos racistas, sejam contra quem forem.