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Arrastão: Os suspeitos do costume.

Há quem ache que ser estivador é uma brincadeira

Sérgio Lavos, 27.11.12

A Catarina Martins publicou um texto no Esquerda.net no qual esclarece as razões da luta dos trabalhadores da estiva. Contra a propaganda governamental dos avençados das televisões e dos jornais:

 

"Como o deputado do CDS que queria fazer um concurso para ver quem carregava um contentor mais depressa. Caricaturas à parte, aqui ficam algumas notas do que me transmitiram os sindicatos de estivadores e trabalhadores portuários com quem reuni:

 

1. Os portos dão lucro (em 2011 entregaram aos cofres do Estado mais de 10 milhões de euros) e a sua atividade está a crescer; não há nenhum problema de competitividade dos portos.

 

2. O governo está a preparar uma alteração laboral que torna regra o trabalho eventual não qualificado e mantém um pequeno grupo de trabalhadores com direitos.

 

3. Com a proposta do governo o trabalho suplementar vai ser pago mais caro, porque passa a ser calculado à hora e não por turno; mas mais trabalhadores precários, a quem nunca se paga trabalho suplementar, serão explorados.

 

4. Os estivadores e trabalhadores dos portos em greve não querem ser um pequeno grupo de privilegiados num mundo de precários explorados e é por quem está excluído que estão a lutar.

 

6. Há portos em Portugal onde só há trabalhadores eventuais ou em que os precários representam mais de 70% do total dos trabalhadores.

 

7. Os estivadores não querem acumular trabalho suplementar, mesmo que ganhem mais com isso. Querem, como toda a gente, poder estar com a família e os amigos. E querem que sejam contratados mais trabalhadores, criando emprego. Não tem sentido tanta gente sem trabalho e estes trabalhadores fazerem turnos de 14, 20 e mais horas

 

8. Os salários dos estivadores não são tão atrativos como circula na net: ficam entre 550 e 1700 euros. Os salários sobem com o muito trabalho suplementar que é exigido a estes trabalhadores.

 

9. Para ser estivador e progredir na carreira é necessário ter o 12º ano, fazer exames médicos, psicotécnicos e vocacionais, e fazer formação específica, tão mais exigentes quanto a especificidade técnica dos equipamentos que operam.

 

10. A segurança no trabalho deixa muito a desejar e os acidentes de trabalho não são raros. Os trabalhadores precários não só têm mais acidentes, porque têm menos acesso a formação especializado, como, quando têm acidentes, são dispensados.

 

11. A greve dos estivadores é só ao trabalho para lá de um turno de 8 horas. Ou seja, fazem oito horas de turno todos os dias e ainda asseguram, no resto do dia (os portos trabalham dia e noite), os serviços mínimos. Esta greve é um problema para a economia porque os portos assentam na exploração destes trabalhadores.

 

12. Acabar com a greve e proteger a economia é simples: basta o governo recuar na sua proposta aberrante de regresso às praças de jorna."

651 milhões de euros para empresas de trabalho temporário e esclavagistas

Sérgio Lavos, 02.03.12

 

 

Acho que fica tudo dito sobre o que o Governo pensa do desemprego e dos trabalhadores do país quando a solução avançada para combater o desemprego jovem passa primeiro pelo subsídio estatatal às empresas de trabalho temporário, de modo a que façam o que compete aos Centros de Emprego, mas em condições muito piores para os trabalhadores, e depois pela promoção do trabalho escravo, não remunerado, a que se costuma eufemisticamente chamar estágios*. Quem conhece o mercado de trabalho sabe que a percentagem de empresas que acaba por contratar os estagiários é muito baixa. Em tempos de crise, ainda é pior, e a exploração imoral dos estagiários torna-se regra: há empresas a aceitar sucessivamente estagiários sem nunca os contratar. Já chega, ou ainda queremos levar com o Governo PSD/CDS durante mais tempo?

Trabalhando

Miguel Cardina, 13.04.11

 

Um estudo da OCDE divulgado ontem notava que o trabalho não remunerado correspondia em Portugal a 53% do PIB. Os portugueses – ou melhor, as portuguesas – gastam perto de quatro horas diárias em tarefas não remuneradas mas indispensáveis à sociedade: cozinhar, lavar a roupa e passar a ferro, cuidar dos filhos. Entendo como um avanço civilizacional a saída da invisibilidade destas actividades, mas acho que os dados devem fazer-nos perseverar numa série de exigências políticas, que devem ir de campanhas pela conciliação entre vida familiar e vida profissional até à exigência de creches públicas e acessíveis a todos os extractos sociais, passando pela luta contra as inconstitucionais diferenças salariais em função do sexo e pela denúncia dos “telhados de vidro” que ainda existem na ascensão profissional das mulheres.

 

Mas penso noutra coisa. E se de repente confrontássemos o nosso conceito de “trabalho” com uma série de actividades que desempenhamos, conhecemos ou usufruímos e nos questionássemos: será isso trabalho? E que ilações tiraríamos se respondêssemos positivamente? Cuidar de familiares, vizinhos ou amigos é trabalho? Redigir um artigo de opinião para um jornal é trabalho? Levar a bom termo uma gravidez é trabalho? Ensinar música, participar num grupo de teatro amador ou dinamizar um clube desportivo é trabalho? Ler o e-mail é trabalho? Estudar é trabalho? Estagiar sem remuneração é trabalho? Desenvolver uma actividade sexual remunerada é trabalho? Escrever num blogue é trabalho?

Esta não interessa?

Sérgio Lavos, 19.03.11

Chega a ser chocante a diferença no tratamento jornalístico que o Público fez (e os outros jornais on-line não andam longe desta bitola) entre a manifestação da geração à rasca e a de hoje, da CGTP, que até pode ter tido mais pessoas em Lisboa - quando a frente chegou à praça dos Restauradores, ainda havia gente na Fontes Pereira de Melo. A única fonte é a Lusa, a agência noticiosa do Governo, e quase que se contam pelos dedos de uma mão as linhas dedicadas ao assunto. Por muitas queixas que tenhamos do sindicalismo português, e descontado o efeito novidade da manifestação de sábado passado, não será este protesto tão ou mais sério do que o outro? E não terá ele muito mais peso no futuro do país, tendo em conta que a CGTP é um dos parceiros sociais com quem o governo tem de dialogar? Ou será que esta, por não ter tido o apoio explícito da JSD e implícito de toda a oposição de direita, não interessa? Questões, questões...

Está disposto a abdicar de parte do seu ordenado para financiar o seu futuro despedimento?

Sérgio Lavos, 15.12.10

 

 

Segundo a ministra do Trabalho, parece que o financiamento do tal fundo para pagar as indemnizações do trabalhadores despedidos (ou, em politiquês, "reestruturação empresarial") vem, pelo menos em parte, do salário dos próprios trabalhadores. Na conferência de imprensa, a jornalista não percebeu o que tinha acabado de ouvir, pois perguntou novamente se não seriam os patrões a pagar esse fundo - o que, diga-se, é sintomático da mentalidade de alguns jornalistas, mais preocupados com o bem-estar e a felicidade de quem "reestrutura" do que com a pobreza de quem é despedido. A ministra sorriu e lá reforçou que esses encargos não serão suportados pelos patrões nem pelo Estado. Sim, é verdade, quem sobra são os trabalhadores. Belíssima ideia. Pode-se mesmo afirmar: a autêntica quadratura do círculo. Ao ordenado dos trabalhadores é descontada uma parte para financiar uma futura - e hipotética - indemnização em caso de despedimento. Veremos o que sairá daqui, quando chegarmos às negociações com os outros parceiros sociais. Mas lá que começa bem, começa.

 

(Comunicado de imprensa aqui.)

Previsível

Daniel Oliveira, 31.05.08


Há fumadores que estão a ser alvo de processos disciplinares, que podem levar ao despedimento, por fumarem fora do espaço de trabalho. Os processos de despedimento com justa causa não prevêem a indemnização nem dão direito a subsídio de desemprego.

“A entidade patronal verifica que os trabalhadores abandonam os seus postos de trabalho para fumar um cigarro e surge a possibilidade de lançar contra o trabalhador faltoso um processo disciplinar com o objectivo de o despedir com justa causa, principalmente quando o trabalhador é persona non grata”, disse à Lusa Augusto Morais, presidente da Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas (ANPME).

Acontece que, “na grande maioria das PME”, não existem espaços próprios para os trabalhadores fumadores, que são obrigados a abandonar o posto de trabalho para “matar” o vício. Tendo em conta que 40 por cento dos 2,3 milhões de trabalhadores das PME são fumadores, o presidente da ANPME admite que “este é apenas o início” de muitos litígios laborais, resultado da nova Lei do Tabaco que entrou em vigor há cinco meses.

RTP